domingo, 22 de janeiro de 2012

O Cenário Em Que Vivo


A arte da INCOMPREENSÃO...

É difícil hoje em dia se fazer entender. As coisas acontecem de maneira muita veloz e as pessoas tendem a nem se ouvir direito. Sabe aquela agonia de ao estar lendo um livro – ou qualquer coisa do tipo – e de repente da uma vontade arretada¹ de pular algumas linhas e chegar logo à conclusão? Então...!

Hoje em dia isso é feito com tudo. Livros, filmes, jornais, seriados, revistas e principalmente no diálogo. O pior de tudo é ler/assistir/ouvir apenas um pedacinho do que se procura conhecimento e ter uma conclusão pré-formada sobre o assunto em questão. É o chamado jarro cheio. Não entra mais nada ali; já está cheio até a boca. 
Tudo que se tenta por a mais, transborda. Nada (ou quase nada) é absorvido.


Acho que é pela época em que vivemos mesmo. Tudo muito virtualizado e na velocidade de um clique. As pessoas aprendem a não confiar uma nas outras porque são todas autodidatas. Não precisam uma das outras... Ou melhor, precisam sim! Mas de uma forma tão inumana e fantasiosa que não conseguem perceber mais o óbvio a sua frente: todos nós somos frágeis.

Hoje é quase impossível você ver/ouvir alguém falar de alma aberta: “Errei. Fui fraco/inexperiente/egoísta.”. Não sem a pitada de orgulho indelével. 
Mais difícil ainda é o reconhecimento das dificuldades alheias - afinal todos falham... 
Hoje a maior parte das pessoas têm a percepção convicta de que a humanidade inteira é um bando de mentirosos, traiçoeiros, mesquinhos, oportunistas. "Os outros não têm problemas; fazem charme".

A única verdade que conta é a que está na mente. 
Aquela que criamos e acreditamos - a preconceituada. 
Não a que nos é contada – mesmo que venha de uma rara pessoa em quem confiamos.

Fácil é você cair numa cilada CSI² de alguém. 
Fácil é você ouvir alguém dizer “Você me entendeu errado”, “Você me ouviu dizer isso?”, “Essa foi a impressão que você teve”.

As pessoas não se expõem mais. Não engrenam a verdade 100% e querem que seus interlocutores adivinhem suas intenções só para terem o prazer de dizer “você está errado(a)” ou “você não me conhece”.

Psicologia a profissão do futuro. Ouvi isso há pouco tempo... E acabei concordando. 
As pessoas não confiam em ninguém. Confiam em ajuda profissional
E isso é hilário... Porque quanto menos se deixam aproximar uma das outras mais elas precisarão de Psicanálise. Ou seja: criarão seus próprios monstros viciosos – pagos e caros! 

E quando Paul Sartre disse “O inferno são os outros” não posso tirar o seu quê de razão, mas posso inferir que o inferno começa dentro de nós. 
Transportamos para os outros nossos medos, angústias, frustrações, decepções. 
Tornamos físico o nosso mal interior... Afinal, o mal e o bem começam dentro de nós – o conceito de bem e mal é inerente à convivência humana (dita civilizada).

Somos um bando de sabichões! Cheios de nós mesmos. O ser humano tem uma tendência à onisciência atribuída. O parecer saber demais de tudo para que os outros reconheçam esse dom em você. 
Mas o problema é que todos nós padecemos do mesmo defeito. E ao mesmo tempo temos uma tendência irrefreável ao egotismo. Ou seja, não passamos de reinos em conflito. Lutamos uns contra os outros querendo provar que eles não são bons entendedores - e não nos fazendo entender.

Procuramos a vida inteira por alguém que nos compreenda, mas fechamos as portas para todos na expectativa de mostrar o quanto somos exclusivistas, capazes, individuais e poderosos. Exibimos como brigamos com quem pisa nos nossos calos e como colocamos as pessoas nos seus devidos lugares; como somos ótimos detetives e juízes de caráter... Como somos amáveis e amantes e, ao mesmo tempo, vítimas de aproveitadores que não sabem o que é dar valor a alguém como nós.

Na verdade... Somos amadores. Somos amadores em viver.

Na grande e insuperável (e porque não insuportável) maioria das vezes somos crianças e queremos nos afirmar num mundo que achamos ser nosso.

Mas não é.

O mundo estará lá quando não existirmos mais... O mundo é só um cenário.
E somos antagonistas de nós mesmos.

Aderimos a uma arte milenar, mas que permanece totalmente contemporânea; pós-moderna: A arte da Incompreensão.
Somos um bando de animais que se fingem racionais, mas não conseguem definir o que é sentir um ao outro de verdade.


Bem vindo ao “Ãnh?” nosso de cada dia.
Sinta-se incompreendido, porque você não passa de um incompreensivo. 











1 Arretado – Expressão regional. Gíria para "muito grande".
2 CSI – Seriado Norte Americano. Metáfora de Complexidade.

Um comentário:

  1. O cenario que vivemos é assim, pessoas não dizem diretamente o que querem. Não sei se é medo ou um costume adaptado pela sociedade moderna de querer ser ambiguo. Mais o certo é uma conversa sempre se torna interssante quando não vamos direto ao ponto, sabe aquilo de prender a atenção? rsrs
    Eu acho que não fui muito claro com isso, fui?
    Você pode estar me entendendo errado rsrsrs

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