quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (31) - Dourado e Branco

Signo de Fogo



Oi! Eu sou Você. E já estive no olho do furacão. Não faço ideia se foi a melhor das decisões possíveis, mas tudo me enlevava. E ele me levava. Eu, que não me escondeu nada, permitiu o espaço que ocupava. Eu não nasci Você, aprendi a ser. Então posso escolher quem ser e de que forma. Aceitei e não me culpo... Mentira, sempre me culpava. Lógico era ele quem me puxava pela mão e tudo girava de forma sem precedentes. E eu que nunca me imaginei chover, hoje inundo a vida de tempestades recorrentes.


Hoje, quando escrevo Você e Eu, raízes de energia abundante brotam das folhas do caderno procurando aquele caos... tanto caos. Já imaginando que virá tornar-se fascinante. Era arte, era arte. Assim como me fazia de tela em branco, e me comprimia contra a parede, e me impressionava em aquarela, e umedecia minha textura, e fazia os tons tocarem os céus, e miscigenava em expressionismo, e fazia música das minhas entranhas, e pincelava mais bocas do que eu poderia beijar, e derretia em sustenidos, e fazia o mundo parar e ao mesmo tempo girar, e sussurrava as músicas da libido, e desenhava prazeres na pele, e escorregava meu ponto de fuga, e tocava cada degradê... E no meio de toda aquela mistura, ainda era o castanho que você procurava.

I n c e s s a n t e m e n t e. ~arrepio~

Daquele branco morte, confundido com paz, a flor sempre abria coalescida. Mas a dúvida resistia. Fenômeno de ser Você.

Amanhã, quando o Sol lamber meus olhos alterando os tons, passeando do vermelho ao dourado, me lembrarei mais uma vez daquele mosaico... tão misturado. Lá saboreando cada centímetro do teu tornado esfuziante. Era arte, era arte. E ouvirei tua voz: “permanecer no núcleo de mim irá te proteger de mim, Você”. Mas Eu, eu não acreditava. Fenômeno de ser Você. E eu sei, chorarei... O dia do vendaval, a abdução helicoidal, o choque visceral, a necessidade de ar, a vontade de organizar, o erro em desumanizar, a desproporção na simetria, a imperfeição que eu destruía, o medo de perder meu eu, o desespero em não ter meu Eu, a caricata possessividade, a metódica agressividade, a minha ira na tua compreensão, a tua dor na minha perfeição... E no meio de toda essa clausura, ainda serio o castanho que você procuraria.

A p a i x o n a d a m e n t e. ~calafrio~

Deste dourado paixão, confundido com poder, a flor sempre brotará convalescida. Pela suspeita de uma felicidade vazia. Você é antônimo de Eu, mas ainda existirá a vontade de ser eu e você.


#PHpoemaday

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (30) - Um Tema Passado

Signo de Ar


Se me permites a apresentação, eu sou Eu. O prazer é meu, Você. Desculpe a bagunça. Eu sei que tudo aqui é uma confusão. Peço um pouco de paciência, coisa difícil nos dias aonde a onisciência é uma extrema necessidade exigida para ser ignorada – pois, em todos os lugares vemos donos da verdade (e graças dou às exceções) –, para que faça algum sentido atravessar este portão. Difícil entender a minha cognição, não? É. Desejo-te boas-vindas ao olho do furacão. Quando soube que Você queria conhecer o meu universo, não acreditei. Confesso: quando converso sobre quem é Eu, causo espanto e encanto. E é pelos cantos que traços meus pontos, não sou lá fã de ser o centro. Dar atenção é mais meu recanto.

É. Este é o Auto-Retrato. Gosto de me olhar no ontem para entender melhor quem sou.

Não sabe onde ficar, Você? É o caos, é o caos. É mosaico do meu ser. Venha, sente-se aqui. Deixe-me preparar um café. Quando subi para a estação de metrô, foi que vi tudo acontecer, sabe? As cores misturando, pessoas arrastadas por suas coleiras virtuais, senti uma força me sugando para outra dimensão e minha mente já estava em... O quê? Ah, desculpe! Às vezes incinero a largada ou passo o bastão entre uma modalidade e outra – mesmo que a pessoa não tenha testemunhado o início da primeira –. É uma sina.

Sim. É o Cárcere. Mantenho-o perto de mim para saber que a qualquer momento posso errar aonde vou.

Mas, contextualizando, me vi novamente neste fatídico dia no mesmo lugar, no mesmo horário, no mesmo caminho, cercado dos mesmos rostos. Que já me reconheciam (mas não conheciam), que já mediam meus passos, que já aspiravam minha pele, que já pouco me agregavam, que me faziam cada vez mais robotizado. Preciso de mais. E pelas veias multicoloridas desse multiverso subterrâneo, mudei dois tons. É o caos, é o caos. Contei cinco ciclos de minutos para aspirar novos sons. É mosaico do meu ser. Não me repetir faz parte da minha essência. É uma sina. E eu compreendo que no final, a escolha é o mesmo destino. O objetivo não é desatino. Então é eco e o círculo antes aberto, agora jaz fechado. Percebi que é no caminho que evoluímos. É nas facetas do nosso ser em outros mundos – um segundo de diferença e a realidade é completamente diferente –. É, Você. Não sou fã de ser centro, apesar de ser centro de certos cantos. Não tem como fugir das responsabilidades de não ser santo. Se não há ancoradouro? Sempre há! Já não o disse? Perdão. Existem, sim, nossos destinos de salvação.

Isso. O Silêncio. Não consigo entender como viver dentro dele, porque ele inexiste onde estou.

O desespero que me faz não ser um tema passado acaba me reprisando em ser presente em mim. E ter que ser Eu e provar o eu que sou é cansativo para quem me vê. Vejo seus olhos brilharem e amo esse fulgor, Você. Porém, você tem que entender o castanho como a cor mais bela. Tome aqui uma cerveja, brinde comigo! O café? Ah... Verdade, não é? É o caos, é o caos. Que move o que sente, que dá temperatura a canções, que imprime desejos à flor da pele. Estamos nesse exato momento em outro tempo do que começamos. É mosaico do meu ser. Adorei o seu sorriso. Amei esse beijo entregue, profundo. Mesmo, antes. Quando acontecido só na nossa mente. Melhor agora, fora do relicário que a Cássia cantou. Vamos sair. Vem comigo. Deixa eu te mostrar como vejo o mundo.

(cont.)


#PHpoemaday

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (28) - A Conquista

Presa Primal


Sou um animal
Não tenho dono
Não me domo
Não há domo
Que me
enjaule

Encoleires-me
Encolerizes-me

Tenho passos no tempo
Tenho olhos no espaço
E quando me vês
Já saboreio tua tez
Fincando a presa
primal

Desafies-me
Desafines-me

E se disfarça a presa
De caça a predador
E provoca o cortejo
Aproxima o desejo
É a fera solta que
conquistas

Libertes-me
Libertines-me



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Conquista em Fá Bordão



Eu, caminho de mim
Tu, destino sem fim
Ele, Pierrot em cetim
Nós, Colombina e Arlequim
Vós, amor vestindo carmim
Eles, fá bordão em bandolim

#PHpoemaday

domingo, 27 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (27) - O Oco

Geração Tulipa


Precisamos de um pouco mais do soro da idade. Entender que, às vezes, um mais um é dor. Que dividendos resultam vaidade e podem restar saudade. Ordens de fatores alteram, sem comutação, associação ou distribuição do que se sente.

Ah! Um soro da idade para aprendermos. Afinal, não é todo mundo que aguenta uma tulipa no meio das pernas. Não precisamos sacrificar o útero sempre que achar o errado no mundo – o mundo não é só um –. Que, graças a Deus, não somos santos. Aceitar que o desejo vem antes do amor e que conhecer língua alheia não é absurdo; estudar cada expressão do idioma, se lambuzar em todos os lábios da linguagem, engolir em dialeto encharcado. Absurdo é esse mundo cada vez pau no oco, transformando pessoas em fantoches programados. Travados pela espada de Príapo que os conduz numa única direção, sugando com o buraco negro a Via Láctea para respaldo à malcriação – o todo sempre está errado e viva a revolução! –.

Ah, que essa adolescência tão terna encontre a fonte ao soro da idade, pelo amor dos deuses! E que observem que orgânico é diferente da cegueira, que somos os mesmo e vivemos e o que você vai ser quando você crescer. Que orifícios e domínios são, no final de tudo, besteira. Quanto mais à pressão der, mais vivemos de pressão – e olha só: com a fórmula certa, pode sim, ser por tesão –. Que abram os olhos aos olhares fugazes que sorvem a barba que delineia o queixo, provocando um malicioso sorriso; recíproco. Ser humano é pecado, é errado, é trôpego, é malfeito, é torto, é vagabundo; é belo ao grego e isso é lindo.

Um soro da idade para que a geração tulipa aguente firme a tortura da verdade a penetrar seu corpo esquálido, recitando o desafio: encontra a perfeição que há no teu próprio umbigo.
É o oco desnecessariamente preenchido, é o lugar incomum – os três poderes dos cachorros–. Um mastro de segurança entupindo o vazio. É o copo de cerveja transbordando sangue coagulado. É a rebeldia infantil. É o repúdio por repúdio. É a luta sempre por um fio – de cabelo com aquele creme de marca super na moda –. É a hora... É a hora...

– Benny! Vodka, água de coco? Pra mim tanto faz... Mas traz uma dose de soro da idade, por favor.



#PHPoemaday

sábado, 26 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (26) - A Lama

Se Joga!


É
pau
pedra
É
o fim
É
o fim
Me suga, areia movediça
Irrompe e não iça
Brasil em
Suiça
e
Me afoga
me afoga
É
vergonha
É
cegonha
Em fuga da liça
País da malícia
Se resolve em
pizza
É
De cá pra lá
De lá pra cá
se joga!
É
Na lama que eu gosto
Me engana
E no domingo a
missa
É
pedra
na janela
É
pau
na cara
É
gozo
na mala
É
dólar
na meia
É
o fim
do Doce
É
o fim
do salgado
É
o amargo
o amargo
e
se joga!



#PHpoemaday

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (25) - Os Sinos

Absolvição


Brisas cálidas trazem dos ombros as finas alças, magnetizando o relevo macio por onde escorregam e descarregam ondas elétricas de cima a baixo. A dança segue até onde a sinuosidade insinuante do corpo limita os movimentos do tecido. Os olhos sugam o desejo um do outro e sem demora, se devoram. As bocas roçam e resvalam, as línguas fluem e confluem, molham-se no interior um do outro e voltam para umedecer o desenho dos lábios e mordem com vontade cada parte tenra. As roupas se tornam caricaturas sem propósito agregadas à estrutura. As mãos dele passeiam pelas costas imprimindo a pressão necessária e tomando-a para si sem sufocá-la. E os braços seguem sentidos diferentes, direito ao norte, esquerdo ao sul, simultaneamente, arrancando grunhidos e provocando abocanhadas durante aquele beijo afogado. Conquista pescoço e nuca, os cabelos dela preenchem os vãos entre os dedos. Toma cintura e nádega, o corpo dela tão próximo que o coração de ambos é um carnaval. Pressão em norte e sul. Gemido descontrolado. As mãos dela procuram descontroladamente onde se aprisionar. Puxa-o com o corpo para trás, trazendo-o consigo, joga a pelve para frente sentindo-o. Crava as garras nas costas e a cada movimento um choque de suor por todos os poros. Abandonados ao banco do carona do Impala 1967 geram energia. Um terremoto compassado se inicia. Membros superiores se confundem numa caótica necessidade de arrancar a fantasia para o mundo. Não mais camisa de flanela e jeans; não mais vestido branco e lingerie. Um nevoeiro de desejo esconde o cenário despudorado dentro do veículo, não fosse o ritmo cadenciado nada se desconfiaria. Frequência aumenta e eleva o volume, retumbes ininterruptos, fortes e desenfreados, seios engolidos, teto rasgado, abdome suado, colo em impacto, membros que se arrastam, dor, prazer, perdidos em si e nos segundos de renúncia a tudo, largando a vida e a morte num vórtex de volúpia e deleite profundo.

O abalo sísmico cessa.
As badaladas se iniciam. Prometem as quatro de sempre.

― Ainda não te entendo, Elisa. ― A imensa estrutura gótica lá fora retumbava quase silenciando-o.

― Não há o que entender, Marco. ― respondia, enquanto vestia-se.

― O casamento é amanhã. Todos precisam saber. Eu mereço sair dessa prisão. Eu já amo você!

― Para! Isso de novo? Combinamos a meses, Marco. Vou casar amanhã, às 20h. Era uma questão de incapacidade dele, eu resolvi e o senhor aceitou.

― Mas por que quis continuar? Fazemos isso toda a semana! Há meses. Não havia necessidade.

Ela olha para o pátio da igreja e, com o ar triunfante, diz:

― Amanhã, sairei daqui deixando o inferno para trás. Cada Ave-Maria e Pai-Nosso rezei em você, Padre. Me case com o Paulo, como combinado.

Ela faz o clérigo descer do carro, perplexo.
O motor ronca, a esperança se vai.
O homem fica, a fé esvai.

J. Gonçalves (25/12/2015)

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Sino da Salvação


Ela corre
Tá quase na hora
O coração pela boca
do estômago

Essas horas em que a morte nos sonda com sua foice
Fazem parte do tempo em que nos enxergamos crias
Cobertas de temores

Os suores percorrem
O delinear dos omoplatas
Escorregam entre os seios
e inundam o umbigo

As fiordes ameaçam adentrar
Seus anseios pela boca
Bolsa lacrimal
e anseios

Essas horas em que a sorte nos estala no coro o açoite
Fazem parte da chance que levam suplicas às nossas vias
Repletas de fervores

Chega a tempo e solta todo o fôlego
olha o relógio
e os sinos
gritam
Corre pelo escuro beco, alterna a
velocidade entre um badalo
e outro
Foice na nuca, alma nos pés
décimo primeiro grito
chaves nas mãos
Alcança a luz do fim do túnel
corpo em conflito
avista a porta
Corre pela vida e
o espírito
aflito
Abre e trancafia a madeira
respira fundo e num
riso de alívio:
Terça-feira já foi
Deus me ajude a
não encontrar o
meu destino na
viela morta

[...]

Porque no final das
contas a culpa é
sempre nossa

#PHpoemaday

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (24) - A Morte Anunciada

Sem Resposta


Oi. Tudo bem? Acho que sim, né? [microriso embaraçado] Acho que você vai ficar na dúvida do que isso significa, mas espero que no final de tudo entenda.

Vou morrer.

É... Eu sei que todos nós vamos morrer um dia. “É a única certeza da vida”, você disse. [microriso debochado] Mas, é aquilo que nós conversamos e você sabe que estou bem e aceito bem tudo isso. Acho... O que mais choca as pessoas é que eu nunca me importei. Meu corpo entrega minha idade, mas ninguém sabe, além de você lógico, que tenho mais de 200 anos. [ar de riso] É, até natural depois de tanto tempo convivendo, entender que é mais forte do que eu. Quando sabemos que vamos morrer, o choque na hora faz com que queiramos fazer tudo de uma única vez. Mas depois passa... E aí a gente vira normal outra vez.

Não tenha medo de falar o nome nunca mais. Tudo bem? Já te disse que não devemos acreditar que um nome mude completamente a nossa capacidade de viver feliz – ou é felizes? [...] nunca sei –. Geralmente damos a nossa vida por um nome qualquer, um nome de pessoa geralmente, e gritamos aos quatro ventos que não conseguimos mais viver sem. Eu acho isso tão perigoso já que viemos pra ter [...] – ou termos – uma vida tão curta. [tosse seca]

Desculpa! Por falar nisso... Não fica como eu, tá? Não dê tanta importância às coisas que as pessoas não entendem sobre você. Porque a gente vai ficar tentando e tentando mudar a cabeça deles, mas... Você sabe, as pessoas não querem ser dissuadidas. Elas querem ter razão. Aquele nosso diálogo sobre o bom dia, né? As pessoas não querem saber se você está bem. Bem que você disse: perceber isso, nos muda, mas não muda os outros. Não parte de fora, parte de dentro – e espero que antes que partam. [riso interrompido – engasgo]

E nesse eixo eu me ponho. Quantas vezes eu acreditei que já era uma pessoa morta? Quantas vezes conformada com a minha sina, não fiz contato visual e olhei de lado? E desliguei os sentidos para saber sobre o destino de Eurídice? E me controlei para não rir das piadas tão gostosinhas de ouvir? [voz embargada] Não queria morrer mais, sabe? Mas eu sei que agora é tarde. No final da vida a gente sempre quer mais vida – para corrigir os erros do não viver, eu acho –. [respira fundo – chiado sufocado]

Mas, eu sei quem é você. Eu te vi na fila do pão naquela terça-feira “às 17:08 da tarde”. [riso solto – tosse rasgada] Ou acha que ouvir você cantarolar o Último Romance passaria despercebido? [fungado aflito] Acho que não viveria diferente se voltasse alguns meses no tempo, mas iria querer estar naquela padaria sempre que pudesse voltar [fala carregada] e se pudesse mudar, a única coisa seria dar o beijo que você merece até hoje... [choro curto – respiração profunda] E que nunca o terá.

Foi fraqueza sim. Eu sei disso. Mas quem disse na vida que precisamos ser fortes é um imbecil, sabe? Ser forte é uma obrigação cruel. Quando não conseguimos [pausa – pega fôlego], o mundo se envergonha de nós. [pausa longa]

Eu daria aquele beijo antes, hoje, agora. Sempre me senti tão mais livre contigo, mas o medo de te fazer sofrer me fez mostrar indiferença. Que estupidez a minha. Piegas... Beijei babacas que não mereciam meu perfume no ar e... [voz sonolenta] Eu sei, não há mais o que fazer. É crueldade depois de tudo, mas eu não cons e g u i r i a... [silêncio]
Para a morte mão muda saber quando vamos morrer. Não tente fazer nada... Não t e n t e... [inspira profundamente]
Aceito morrer, só não aceito ir embora sem dizer o qua n t o e u t e a m...

► ____________________ 3:18
[recebida às 22:31]
[lida às 22:32]







• • •

[enviada às 22:36]                               
► ____________________ 0:18
 [recebida às 22:36]                              
(...)

[enviada às 22:37]                               
► ____________________ 0:13
[recebida às 22:37]                              
(...)

[enviada às 22:37]                               
► ____________________ 0:12
[recebida às 22:37]                              
(...)

[enviada às 22:38]                               
► ____________________ 0:15
[recebida às 22:38]                              
(...)

   [digitando...]                                         
                                        


#PHpoemaday

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (23) - A Pansexualidade

PanAche


Dreadlocks e alargador
na pele
alvo

Tartarugas maoris
nadam na orelha
alagam

Alargadores abrem
espaço para
o grito

Não ter que ser quem é
Escolher ser quem quer

Contas contam mais
que um
terço

O Pai é o nosso refúgio
na cruz; às vezes
precipício

Que desce pelo pomo
provindo do barro
no início

Vão se os dedos
se não vierem
anéis

Converse é All Star
e Casulo é C&A

Prefere Beatles à feijoada
Baden Baden à Toquinho
Street Dance à Itaipava
Sushi à Samba

De si dono
Miscelânea
Se der, dono
Humana
do seu desejo de
Joaquim e Joana
Gozar ser quem
bem escolher



#PHpoemaday

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (22) - A Miscigenação

Blues


Ele já havia percebido o comportamento, porém esperava uma posição. Sentado em sua poltrona ao som de uma rádio internacional, experimentava seu chá enquanto lia através de suas lentes a edição de domingo do The Guardian.

Nunca o fizera, mas nesta manhã em especial correu para as noticias policiais e depois as de esporte. Odiava pular as editorias, adorava obedecer a ordem, exata. Os cabelos loiros, recém-aparados, penteados para o lado, formando uma franja em onda, os fios milimetricamente organizados e apesar de horas após o banho ainda permaneciam úmidos.

Estava em frente a lareira em forma de moldura — uma sequência de fotografias mostravam uma linda família —. Pintara a sala inteira de branco e ainda respingava o aroma químico da tinta para madeira. Três sabres estavam dispostos equidistantes na parede às suas costas. Quadros de pintores impressionistas — não ingleses — iluminavam-se com o favor da porta e janelas abertas.

Ouviu barulho na cozinha e aguardou. Alguns minutos depois, ele vem.

Vestido como o vocalista do Sexy Pistols, cabelos arrepiados e tingidos de negro, couro em seu couro, correntes como armadura, espinhos de metal, brincos e piercings. Um lindo rosto trazendo um olhar ferino e um olho roxo contrasta com o verde-acinzentado natural. E, lógico, o essencial: um sorriso machucado de deboche escarnecedor juvenil. Acreditava ser a representação da anarquia, mas alegrava ao pai, sem saber, a beleza que a pintura de sua imagem produzia. Uma bagunça ordenada.

Puxa um banco, senta-se em frente ao homem que placidamente fita o jornal.

— Coroa, sabe o que é miscigenação?

— É uma palavra difícil inventada pra dar significado a algo sem relevância alguma.

— O senhor deveria saber que o dicionário diz que é cruzamento inter-racial que cria indivíduos com características diferentes e que... — O pai olha por cima dos óculos e aqueles longos olhos azuis rapidamente afogam toda a sala.

O filho, em estado de hipnose, vê seu próprio vulto refletido nos olhos do pai.
Perde a respiração por alguns segundos.

— Entendi.

O mais novo sai.
O mais velho vira a página.

É possível ver a notícia sobre uma briga de torcidas organizadas. A página 5 do caderno policial traz a manchete RACIST STREETWA... até onde o amassado permite.

O volume aumenta com o silêncio.
O som passeia pelo recinto.

"... I found a dream that I could speak to/
A dream that I can call my own..."

Desce lambendo o carpete cor de manga-larga.

"... I found a thrill to press my cheek to/
A thrill I've never known, oh yeah..."

Rodopia e escala a lareira pela lateral direita.

"... You smiled, you smiled oh and then the spell was cast..."

Acelera desfocando todas as fotografias e estaciona em uma linda mulher de longos e cacheados cabelos e o maior sorriso que uma vida pôde ter.

"... And here we are in Heaven/
For you are mine at last..."



#PHpoemaday

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (21) - Tsunami

Adeus Panteão



Um imensa fissura. Rachando todo o meridiano. Meia crosta afunda e um degrau a Poseidon é levantado (derrubando-o), rasgando ao meio Afrodite e Dionísio — desfalecendo Príapo —. As águas salgadas chovem rumo ao céu — da boca —.

Zeus grita do alto da tempestade. Regurgita Atena ao longe em eletricidade. No peito Ares, na alma Hades. Oceano inclinado, mais rápido que Hermes avança, revirando e explodindo cada superfície que tocar, inflamando os caminhos como os cavalos de Apolo. As setas de Ártemis tão certeiras, despertam apenas selvagens abissais do coração de Gaia, que adormecida, começa a sangrar — até a vida —. Erupções de Hefesto já cuspiam todas as armas do Inferno. Cronos congelado. Éolo, Boreas e Noto em colisão, estilhaçam Euro e Zéfiro num asfixiante turbilhão.

Não havia composição de Orfeu que aplacasse tamanha catástrofe. Nem beijo de Eros que acalentasse em qualquer estrofe. Ferido Morfeu e ostracizado Hipnos, quanto mais o firmamento era um espelho d'água, mais insuportável era a existência de Himeneu. E o nível do mar sobe impossível e sem razão e toma todos os sentidos espelhando-os em várias direções.

O tsunami eclode.

Arrasta...

R isO
    AleGriaPlaNos
       Momen toSPipoca Film es Ch oc
            OLate sBei JosFoto gRafi as Abr aÇo s ArrE                       piOsVerDadecariNhoCuidaDOPrAzeREsdeSCobertaFilMESsusPirOSjanTaressuR
preSasMUsicasLiVrOsViAgenssegredosfLoresC 
onFIa nÇaAm
O r



A ressaca vem e tudo draga de volta. Deixa o caos no lugar. Parindo a revolta.

E o mais inteligente dos filhos de Zeus decide a melhor questão para o melhor dos momentos: Está tudo bem? Podemos ser amigos agora?

Com os olhos marejados em calmaria e como se uma tragédia nunca irrompesse, a Musa responde delicadamente que será sem companhia que prefere ir embora.


#PHpoemaday




domingo, 20 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (20) - O Incenso

Vampiros

 

Uma fagulha de paixão
E os sem senso sorvem a vida
novamente
derrete a alma
preenche a cama
Inesperadamente
Depois, sedentos
sugam cada momento
ao máximo
tormento

E no desespero da razão
Sorvem o incenso em vontade incontida
horrivelmente
procura a fonte
cruza a ponte
Sofrivelmente
Antes, esvaídos
Retornam a ser desvalidos
num clássico
memento

#PHpoemaday

sábado, 19 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (19) - O Sueco

Incompreensível

 

Penso vez em sempre
Tô falando grego?
Como em grego
A prosódia é
Parecida
Não tenho dúvida:
A ideia seria atingida

Devem existir dias que acordo sueco
e por mais que eu clame
conclame e reclame
Minha essência se perde em eco
do que seria eu. Quem eu?

Como um completo estrangeiro
Sem saber idioma, cultura
ou ter dinheiro
E nos vários
és o que eu julgar
Me sinto menos
brasileiro

Mais alienígena
Clandestino
Forasteiro
As caras de ué!
cortam meu
caro barato

Simples, fácil, parco, natural.

É só esforço de querer saber, mas quem do fundo pega 

o fruto se na borda tem um parecido, afinal?

E desde quando parecido é igual?

Aí, bem...
Aí escrevo
Despejo em linhas e entrelinhas
todo o dessossego
Divido em poesia
Os meus devaneios
Na porra da escrita

Nossa! Menino mal!
Olha...
Entendeu...
Xingamento é mesmo universal.


Quanto maior o embaralho
E mais me tornar indecifrável
Quando faço ecos e ondas
E menos moro em meu corpo
Mais compreensível me torno
Olha que louco!

Tô nem aí que na intenção tenha mel
Quero mais é que se... (completou, né?)
E que abram as comportas da Torre de Babel



#PHpoemaday

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (18) - A Tocha

Eu que não fumo


Pensei em ascender
Lembrei de coisas que não deveria lembrar
Tão honesto e tão bonito
como as palavras caem bem
Também derrubam

Eis que ser hiato arrasa a alma
Certos olhares devemos esquecer
Elevar o levar acima de mim
Pelo prazer de admirar
Lambido ser pelas madeixas do destino
O arcos e íris vindos de cima

Pensei em acender
Lembrei de cigarro e de Engenheiros
Do prazer que sobe pela coluna cervical 

Após abandonar os pulmões
E inundar o cérebro de tranquilidade

Do deliciar que bate
no martelo e bigorna
e sobe pelo acústico
Tão bom sincero e tão perfeito que dói

Tê-lo lúcido ou sóbrio tanto faz
Atos que já me fizeram ouvir que destrói
Hoje me corroem
A tocha esta acesa
Mas não aquece
Meu coração

[por quantas vidas durarei então?]



#PHpoemaday

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (17) - A Presa

Mais Que Uma Palavra

Presa
P r e s a
Preas
Pares

Se par
ar
pes

P e s a r
Raspe

R a p e s
P e a r s
S p e a r

Serpa
P ers a

Com alma envolvida, nem
mesmo a palavra
permanece
confinada

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Lugar Comum


Mentiu aos meu olhos de Machado
Prometeu nunca apagar as chamas
Os castanhos mais que o sol valorizados
Serei teu só de ouvir que inda me amas

Perdoavas sem pensar na tua sina
Pintou lindo céu dos meus cabelos
Ser menina em mulher me desafina
Me apanho sendo o mar sem teu veleiro

Quando pensei que amor não mais havia
Tu me domavas; teu calor me renovava
Me julguei ser tua caça todavia

Aquela fome sem cessar de ser o um
Presa fujo a procurar nova cadeia
E teu nome a me tornar lugar comum


#PHpoemaday

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (16) - A Beleza

Vitae


Fora um golpe perfeito. Lindo, limpo e sem precedentes. Atingiu-o em cheio no peito e inundou seu estômago de uma ânsia profunda.

Força alguma seria capaz de arremessa-lo num canto como agora. Calafrios elétricos percorrem cada centímetro de sua epiderme. Cada poro desesperando ser lavado e os suores atendendo ao pedido. Sua cerne invadida de uma fraqueza indescritível já abandona as esperanças.

Lágrimas vertem ao perceber que tudo está por um fio – aquele fio que o trespassara –. Tão novo, ainda tão garoto, retumbava a voz dos antigos: a batalha não permite pequenas falhas. Falhara. As pernas já sem resistência, derramadas sobre o chão frio de cimento temperado. Reputação entrecortada por soluços. Respiração ameaçada por vultos.

Então, no embaralhado do profundo oceano dos seus olhos, as primeiras gotas chovem de seu corpo. As mãos ainda grudadas ao colo, observa incrédulo: jorra vida do seu seio. Fascinado, percebe aquela cor tão única, sua, particular. Ambas as palmas lavadas de si mesmo; sente um prazer perpétuo. Não sabe mais se é, respira ou se existe. Sente que não é mais único; é o todo e a enchente que flui de seu ferimento – antes de morte – como queda d'água, colore o mundo com suas cores quentes. O aroma, não mais férreo, enche seus pulmões de ternura. A lâmina cravada no seu ser é absorvida. Se deixa arrastar pela correnteza que seu âmago formara.

Encontra o cais em meio ao mar de sua criação. Aporta, com a glória dum guerreiro que pela primeira vez sente a vitória em seu nome.
Num epitáfio para nova vida ele escreve, insone:

Aqui jaz um menino, pois não há beleza maior que meu próprio sangue.


#PHPoemaday

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (15) - O Precipício

Abra seus olhos


Ele te olha

Negação é sugestão
da morte
que bem quer
onde está
Congelado

Ele te olha

Tempestade é escárnio
da vida
que torna
cada passo
Precipício

       Pisa e cai
  Um livre
ventre

Ca
     l
   a
 f r _ .
  [...] o

Ele te olha

      Corpo e alma
   Cerrar as portas
evita o

          D
     e
~
  a
 f  _ .
[...] o

Ele te olha

Não importa fingir cegueira
ou fingir que o chão suporta
abre os olhos e salta
só dessa
forma

Ele te olha de volta

#PHPoemaday

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (14) - O Ipê

Suspiros


Tenho que ser honesta contigo. No começo incomodava, depois ignorei. Achei que fosse um dos três: carente, vazio ou doente. Acontece o tempo todo. E eu estou cansada disso. Perco meu tempo e paciência; é um estorvo. Os piores são os apaixonados, na minha opinião.

Mas percebi, depois de um tempo a diferença. Eu entendo não querer falar comigo. No entanto, não consigo ficar longe. Sei que não era loucura sua, não era vazio existencialista, paixão adolescente. Depois de anos observando, aprendi a saber o que tu sentes. E agora faz falta aquela admiração, aquele respeito. Posso me sentar no teu leito... Ao teu lado? Não me olhes dessa forma. Ah! Esses castanhos sob a luz...

Sei, pedi que me apavorasse, mas eram outros tempos. Me aceitas na tua casa, como antes. Vês? Tens por mim um sentimento cativo. Vivo – não faça ar de riso – pelos cantos lembrando de tudo. Meu medo era que desistisses, afinal, não me consideravas inimiga. Diga: que mudanças uma única vida pode trazer? Afinal nascestes só e é sozinho que encontrarás teu destino. Tua parte já fora feita. O que mais queres? Eu estou presente, sempre. E espero mais um presente. Daqueles que me fazem chorar as vidas que nunca tive. Daqueles que me fazem amar impossivelmente.

Não és como antes e ignoras-me. Porém, sabes que cá estou. No canto do cômodo, vendo tua fome e sede, teu cansaço e dor... Sabendo que não é pra mim teu sacrifício – amém! –. É vívido teu suplício e eu o testemunho. Óh! Desculpe te tocar... Eu sei, esse frio... É que não suportei teu semblante esguio. Me olhas, dispara, reclama; prefiro. Não vais mesmo, falar? Leio seus pensamentos se quiser, mas quero sua voz.

Me afasto se queres levantar. 
Te acompanho se queres caminhar. 
O belo bosque. Teu lugar de suspirar.

– Vês esta árvore linda, frondosa, colorida... Magnífica, não é? É o ipê. Conheces?

– Que bom ouvir-te novamente. Sim. Mas o que queres dizer?

– Minha filha ainda não conhece metade da beleza que merece... Não espero que entendas, mas aceite o porquê comecei a te temer.

[...]

– A vida nas tuas mãos. Somos iguais então.


#PHPoemaday

domingo, 13 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (13) - As Unhas

Reversão dos Penetras


Não há lugar como nosso bar
cada mesa molhada
pelo suor de cerveja
conta uma historia
triste, emocionante
bela, impressionante
deplorável
que seja

Não que haja melhor lugar
Para ir depois de casar
Não há

carros enfileirar e proliferar
padrinhos e madrinhas
inundar de gala o pobre bar
que só queria saber
de porres e sonetos
quebrados

Mas se é a festa
Da reversão dos penetras
O local é lá

juntos no boteco
arruma mesa
cadeira, vestido
caneco
chora o menino (é sono)
cacofonia, mas daí é bar
especiaria

Não que exista no mundo
Destino melhor para a Lua de Mel
Não há

noiva chega, arrasta vestido
arrasta carro, arrasta marido
quer a roupa trocar
promete voltar já
e o bar? grita:
tá de castigo!

Sem sombras e duvidas
E o poeta pode afirmar
Melhor lugar pra chorar
Nao há

soluça noivo arrependido
consola-o
mãe, tio, pai, amigo
engole as unhas
incha os olhos
descabela; palhaço
da festa
suspira perdido

volta esposa
puxa corrente
e sai o cão sem dentes
ganindo fininho

de repente reverbera
uma ditosa senhora
 " da próxima vez, goza fora"

se bar também é alegria
o gozo é geral
e geral não alivia

 "e ai, cara curtindo o buffet?"
 "ainda bem! só parei pra ver a tv!"

Não há lugar como nosso bar


#PHPoemaday

sábado, 12 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (12) - A Favela


Garoto do Morro


(Por: Jefferson Gonçalves)






(Am C)
Fa... Favela
Fa... Favela

(Dm F)
Corria sob o sol [singela]
Sorria com os amigos [magrela]
Sorvia toda a culpa [leal era]

(F G)
Criancinha, peixe-anzol
Soberano e doce o sol
Sobe morro, corre e cai
Chorandinho, à casa vai
Pai que bate em mãe não dói...

Quem dera...

(Am C)
Fa... Favela
Fa... Favela

(F G)
Criancinha, azeite e sal
Soberano? Aguenta pau
Sobe morro, enfrenta o sai
Menininho, empurra e cai
Pai que bate em mãe só dói



#PHpoemaday

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (10) - O Quarto de Motel

O Quarto 222


Não queria ser motel. Não o era!

Apesar das paredes do quarto de tom verde nada frias serem, não sentia. Mas sentiam aqueles que adentravam seu interior; para sentirem outros interiores.

Apesar de testemunhar primeiros beijos e promíscuos gritos, não queria ser motel. 

Não o era. 

Também presenciou sussurros fugidios, fogo liquefeito em fluidos. E corpos em tremores, expressões de prazeres e dores. Suores. Seu espelho lateral (e não no teto) refletiu amor, sofrimento, lamento.

Apesar de suas toalhas levarem a identidade ainda não renovada, não queria ser motel.
Não o era. 


A tela não servia pornografia; um pouco de I don't wanna miss a thing durante a madrugada que, mesmo sendo foda, era praticamente o inverso. Era outro universo.

Apesar de dias de constante sexo, não queria ser motel. 

Não o era. 

Lençóis contorcidos entre dedos suplicantes, almofadas derrubadas ao chão complacente, ar condicionado que tentava abaixar os "me fode!" insistentes. Chuveiro que aliviava as feridas abertas de arranhões recentes e ao mesmo tempo lavava os amantes em lascívia urgente.

Apesar da portinhola de entrada ao desjejum, não queria ser motel. 

Não o era. 

Lugar de risos e sabores. De dias e não horas. De sonhos e temores. De amores, mesmo em fodas.

Não queria ser motel. Não o era?




#PHpoemaday

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (09) - A Desinência Verbal

A Desinência Verbal


Em quantos
morfemas metamorfoseados meu amor pode ser expresso sem que perca sentido?
Por quantos
fonemas brigados devemos discutir a certeza da verdade na palavra daquilo que foi dito?

sentidos modelados pelo tempo e dá novo significado ao sentir.
ditos influenciados pelo modo expressam minha diferença per se.

Falar amor
falávamos. Pois da boca pra fora todo o amor é fácil, belo e compreendido.

Fadar amor
fadávamos. É preciso ser hoje e agora, predicar o amor em expectativa o torna ferido.

Falhar amor.
falhamos.




#PHpoemaday

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (08) - O Assédio

Nessuno-Eroe


L'hai visto qui?
O quê? Não vi!
Come mai non hai visto?
Tá... Fala devagar, nonna.
Un uomo...
Hmm...
Che attacca una donna.
No noticiário?
Si! Dio Santo!

Vieni qui, nipote brasiliano indegno!
Siedi qui con me!
Não precisa falar assim comigo. É ao vivo!
Si! Caspita!
Bandido!
Che pericolo!
A que ponto chegamos!

La polizia, tutta la folla!
Ele ta com a arma na cabeça da moça!
Benedetta vergine Maria!
Olha, olha! Virgem Maria!
Io non sono cieca! Un coraggioso senzatetto!
Ai, Jesus! Os tiros!
L'angelo di Dio questo uomo...
Foge mulher! A polícia tá atirando!
Strage! Tragico!

Un nessuno-eroe morto come un sacrificio per qualcuno.
E o ladrão que não se arrependeu também.
Di fronte a quella chiesa, ragazzo!
É! A Sé...
Dio!
Estivemos lá, lembra?
Che paura!
Olha lá... Ele sentado.
Angelo benedetto.


#PHpoemaday

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (07) - A Prostituta

A Prostituta


Ditado Popular

Saltos e solitário sobressalto
Amantes no frio asfalto
Na luz pífia do poste
Tristeza presente
Antes: vazio

Nada é tudo a perder [não tentar é perecer]
Aceitar é sofrer [e perdoar sem poder]

Reflexo maquiado em parcas poças
Universo lembrado em bolsas
Além: desejo de parar

• • •

Pode ter certeza: é safada e gosta!
Uivar e apontar; a moral exposta
Trabalhar? Negaria a proposta
Asseverava em desafio

Nome de família a zelar [justiça: tudo é merecer]
Aceitar é dever [e perdoar sem querer]

Casa arrumada e passadas as roupas
Almoço e jantar para várias bocas
Marido humilha em frases loucas
Além: desejo de parar



#PHpoemaday

domingo, 6 de dezembro de 2015

Pausas (IV) - Sobre ser como os porquês

Por que o porquê é tão porque de si?

Vivo me perguntando o por quê?



Poderia, ele simplesmente, como outras palavras se manter e desdobrar-se para ser. 
Mas não o porquê. Por que seria diferente? 
Afinal, ele não quer ser igual aos outros. 
E seria, por quê?
Porque é um cara que se vê diferente.


Crônicas do Frio II (06) - O Dó Maior

aCorde

Acorde
Extrapole o si
E ele vem


Não queira
voltar pra lá
Não queira


Ser só é besteira
Seja maior
Acorde


#PHPoemaday

sábado, 5 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (05) - O Pianista


Für Elise


Pupilas sugam negrume, anseiam luz, quarto escuro... 

Desejam cores, pulso lá fora (em outro quarto).
Íris estremecem. 
Uma onda de volúpia melancólica e o esôfago sente.

Aspir... [îîîîîîîsss] 
Expir... [fsssssîîîî]

[pän... ♪] 

Som desfila, segue e definha num mi agoniante, retumbante entre as quatro paredes...

[nån... nän... nån... nän... nån... nän... ♫] 
Lábio encerrado entre os dentes, escarlate e salgado. 
Sustenidos rés respondem aos mis tentando gritar à Für Elise (tão pobre)...

[tän, nan, dan, dån... ♪] 
Um apelo de si, resquício de dor por ela... 
Agora o quarto eram sons, ondas, cadência, ritmo.

Mão esquerda aracnídea.
Movimentos alongados e precisos, encanto.
Mão direita ferina.
Movimentos rápidos e impulsivos, expulsando.

"Fraude...", vinha e retumbava em toda sua existência.

Mais sol, mais dó... Mais acordes em lá menor. 
Dentes trincados, olhos no enquadro da janela. 
Uma iluminação destoante invade o recinto, pupila recolhe feliz, rosto e suor. 
Quantas horas? Já nem sabe mais.

[nån... nän... nån... nän... nån... nän... ♫] 
Mais uma vez... E os dedos sagram clamando por Elise, nada pobre. 
Não se ouve o som, mas a luz tímida e fugaz revela o belo tom de vermelho escorrendo do instrumento e tocando os insensíveis. 
Sem dó, sem sol. Sal, talvez.

"Fraude." Como? Canção é coração e não só partitura!

Vislumbrava outro enquadro. Um piano de calda 
[nån, nän, nån... ♪] 
e Elise, provavelmente gritava.
Pela segunda janela, o pianista, invadia mais um espaço seu, com a clave de sol - que ele jamais soube o que era - orquestrando-a.
As teclas tocadas, com certeza desconexas 
[nån, nän, nån... ♫] 
pelo convite do senhor clássico ao improvável assento.

"Fraude!" Aquele ritmo... Cadenciado, frequente. Ah, Elise!

[*Tiempf*] 
Seu rosto é chicoteado. 
Uma corda o acerta, o aço corta timidamente sua face. 
O som cessa.

Fita mais uma vez a foto do casamento lançada ao chão... 
A música cantada, sem técnica; apenas coração. 
No apartamento em frente um murmúrio, talvez gemido...

A luz artificial invade o quarto inundando-o. 
Violão no colo, garrafa de vinho em solo. 
Calibre 38 ao alcance da mão. 
O semblante decidido...

Fraude?
Für Elise
.



#PHPoemaday

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015