terça-feira, 30 de junho de 2015

Crônicas do Frio (30) - A Exaustão

A Exaustão (O Castelo de Cartas) 2/2

Olhos fechados. O mundo pára. Irrompe toda a torrente de desejos e faz pontos do corpo contraírem involuntariamente... Como que sendo acariciados por eletrochoque. O som do notebook caindo no chão os desperta. Marjorie sentada no colo de Henry quase sem regata e camisa. Ele com os botões da camisa estourados e o peito arranhado. Ambos arfam suplicando ao ar mais vida e embebidos em desejo.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Era Um Garoto (III) - Polêmica do Arco-Íris

A Polêmica do Arco-Íris e a Jihad Brasileira

Há 15 anos. Região Metropolitana do Recife. Um homossexual travestido de mulher margeia a Avenida A de um bairro afastado do Centro, caminhando com seus amigos – igualmente customizados. O bairro pára. Uma uivação é iniciada. Gritos escarnecedores reverberam pela comunidade inteira e duram todo o desfile daquelas pessoas diferentes. Sei disso. Porque no meio da multidão que urrava bestialmente, estava eu.

Cerca de cinco anos mais tarde, um pouco mais tolerante eu expressava minha total compreensão e apoio: “Cara... Conheço gays, respeito e tals. Mas eles no lado deles e no meu lado”. Oh! Lord... Comentava com amigos sobre como poderiam deixar de gostar de mulher e filosofávamos sobre a procedência da homossexualidade no mundo – de forma jocosa, claro.  Esse comportamento desprovido de inteligência se estendeu por mais cinco anos.

Hoje fico impressionado. Lógico que eu era um adolescente imbeciloide e fui um jovem preconceituoso (embaraçosamente por muito tempo, por mais que eu acreditasse que não), mas já era orientado pela minha digníssima mãe desde criança sobre a diversidade no mundo. Percebo que tomava atitudes para ser aceito socialmente – já que eu me achava estranho e deslocado (ou seja: adolescente). Participar daquela humilhação pública era uma graça gratuita quase obrigatória aos “normais”. E todo jovem cristão de boa família tinha que malhar o Judas sempre que possível.

Crônicas do Frio (29) - A Combustão


A Combustão (Castelo de Cartas) 1/2

– Ah! Foda-se!

E saiu cicloneando pela casa! Derrubando tudo que via pelo caminho até a porta, rumo à liberdade. Odiava com todas as forças não ter o respeito de um adulto e ao mesmo tempo em que perdia (gradativamente) os privilégios em ser criança. É a maldição da idade. Esvaziou a casa da sua presença e caminhou em passos firmes, apontando o nariz para o horizonte. Não fazia mais sentido o quê de toda a discussão, mas tinha uma convicção: eles não tinham culpa. Estava em combustão. Bem o sabia e deixava o instinto guiar seu corpo até a fonte.

* * *

domingo, 28 de junho de 2015

Crônicas do Frio (28) - O Terremoto

O  T  r     m     o
       e  r e    o t         (Tremores)

Fervendo em febre, 

                                    ela treme, 
                                                      geme, 
                                                                 grita, 
                                                                           chora,
                                                                                      sangra, 
                                                                                                   tosse, 
                                                                                                              contorce, 
                                                                                                                               racha, 
                                                                                                                                          vomita 

e de toda a forma tenta chamar a atenção... 
Na esperança, 
                         desesperada e em vão, 
                                                                 do ser humano...
 

Ter
 

Remorso.

[Já entregamos alvo e artilharia, não temos pena nem de nós. Ao ver destroços a alma esfria]



#PHpoemaday

sábado, 27 de junho de 2015

Crônicas do Frio (27) - A Maquiagem

A Maquiagem (Per Texto)

Os olhos do mundo.
Medo. O pior espelho.
Me cobro estar belo...
Organizado e perfeito.

De cara: vulnerável.
Alma e coração em evidência.
Tiro com a base fraquezas...
E aparentes defeitos.

Desfaço impressões com sombra.
Delineio olhares com efeito.
Disfarço intenções tal qual Prometeu.

Se meu objeto de desejo me encara de frente...
Ponho máscara prontamente e juro ate morrer 
Que o eu que vêem não sou realmente eu.

#PHpoemaday

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Crônicas do Frio (26) - O Cárcere

O Cárcere (Orgulho)



O meu nome é tudo.
Sem o nome, nada.
O meu dinheiro é tudo.
Sem o dinheiro, nada.
A minha aparência é tudo.
Sem aparência, nada.
O meu carro é tudo.
Sem o carro, nada.
A minha casa é tudo.
Sem a casa, nada.
O meu sucesso é tudo.
Sem o sucesso, nada.
A minha gentileza é tudo.
Sem a gentileza, nada.
A minha etiqueta é tudo.
Sem a etiqueta, nada.
O meu conhecimento é tudo.
Sem o conhecimento, nada.
O meu respeito é tudo.
Sem o respeito, nada.
O meu "em um relacionamento sério" é tudo.
Sem o "em um relacionamento sério", nada.
A minha virilidade é tudo.
Sem a virilidade, nada.
A minha palavra é tudo.
Sem a palavra, nada.
A minha compreensão é tudo.
Sem a compreensão, nada.
O meu status é tudo.
Sem o status, nada.
O meu nome é tudo. 


#PHpoemaday

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Crônicas do Frio (25) - A Realeza

A Realeza (Descartável) #1

Majestaaade... Perdão? Ah! Não sabia que minha reverência não tinha importância. Deveras, estou eu sempre a postos como um cão e dependente como uma criança. Mas, quem dera, sou apenas serviçal e faz parte do meu ofício banal trata-lo como um ser sem igual. Hmmm... Vejo que não mais te interessas por aquilo que prometestes mundos para possuirdes. “Tudo passa” é o que dizes? Então é lei o que dizes... Oh! Nosso rei!

A plebe pede mais deixar-se afetar e menos... Afetação? Ah! Não penses tal desdouro de teu servo. Só porque não sou tão belo e sábio como vós, não significa escárnio o bem querer sincero. No entanto, é claro e com espanto que o povo nota a diferença. Nas canções de outrora tão vívido e hoje, dizem, fria sua presença. Entendo... E estou sempre contigo bem o sabes, porém o que sucedeu a angústia e entrega que apregoavas? Soube que as proíbes... "Não temos tempo" é o que dizes? Então é a lei o que dizes... Oh! Nosso rei!

Não é cinismo, senhor dos senhores... O que é então? Ah! Devo sussurrar ao teu ouvido para que ninguém ouça e pense que sou um atrevido. Ontem enaltecido e revigorado eras... Hoje, míope velhaco agindo como as feras. Desculpe, não sou eu quem o diz... As paredes falam e ecoam no beco aprendiz. Aliás, a singela comparação bestial, não é por mal... É pela desinteligência emocional. Perdoe o arraial, Olimpo de todos os reinos, mesmo em descrédito, saiba é em ti que eu creio... “Desapegar é o que há” dissestes isto? Então é a lei o que tens dito... Oh! Nosso rei!

Deixe esse pobre bufão ignorante entender-te, Oh! Senhor de todos os homens. Por que devoras hoje algo que não tem nome? Por que não mais salvas a mais bela donzela? Por que não mais, atravessado pela seta, expressas homenagem singela? Por que hoje somes no teu trono ao invés de ganhar mais um coração? Por que não mais escrever canções e exaltas a ti como única salvação? Por que te entregas à ira, luxúria, preguiça e a avareza? Por que não és mais soberano, mesmo no alto dessa realeza? Ouço as invocações e evocações que lá de baixo vem a ti. Vejo as insanidades ainda cometidas de quem quer sua benção para si... Faça entender a esse jovem menestrel. Em que momento abandonastes o penhor em ser amável...? “Quando o homem me tornou descartável” dissestes o impensável? Então é a lei, mesmo sendo abominável... Oh! (...)

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A Realeza (e a Plebe) #2

Bebo você. Te tomo inteira. Te absorvo até a fisiologia dizer chega. E arfar sofregamente. Num gemido exigente... Em busca do ar.

Assalto o que é teu. Te torno minha totalmente. Te arranco o véu e desnudo ferozmente. E febril faço o Céu do seu corpo. Me rasgue o dorso mais um pouco. Um revide satisfeito no prazer da dor... Que pensas causar.

Devoro teu ser. Te provo em tudo e em detalhe. Te abocanho o juízo e me delicio em cada curva em toda parte. E invado a tão gentil fortaleza. Ao reino terremotos, tempestades... Um plebeu adentrou a realeza.

Envolvo o teu-meu. Te acolho frágil e meiga. Te enlaço cansaço-em-cansaço. E misturo humores em gentil compasso. Um perder-se para sempre em ti: eu, vagabundo... Você, princesa.



#PHpoemaday

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Crônicas do Frio (24) - Antes da Meia Noite

Antes da Meia Noite (Dia de Nada) 

- sei lá -.

"Feliz novo dia" seria o que ele diria.

Hoje, dia de nada, o sono aumentando os nós do lado dele da corda.

Hoje, nem sei a data, o bocejo e os hormônios - sei lá - fazem a chuva e esse frio serem mais foda.

[pede parada~entra e se acomoda num assento do lado da janela]

Digo que não, mas sinto o que sinto. Não falo que sim, mas no outro insisto.

Mas, na boa, nem dizer... eu... Poderia.

Um pingo de tudo sempre vem nessa lagoa em dias como estes. E ele sozinho faz ondas na estrutura inteira.

É. Na minha. Não queria mais falar palavrão, mas puta que pariu... - sei lá -.

Olho através do vidro lavado pela chuva. Há um espectro meu lá fora.

Me observa como se dissesse: acompanhada, mas sozinha (sei que não, só que... - sei lá -.)

Um fantasma me faz ouvir sobre o clima...

Uma explicação insuportavelmente espertinha de quem lê inutilidades pra me impressionar... Ou a si... - sei la -.

Os solavancos fazem meus cabelos desgrenharem. Parece que está aqui, me olhando, nesse dia de nada. Dá raiva.

[seres vivos temporários vêm e vão, entram e saem da visão]

Minha alma tenta sangrar, começo a enxergar pelos vitrais inundados do que sinto e sentia.

Mas, na boa, entender... eu... Nem saberia.

Mordo um dos meus dedos derramados sobre o rosto que ferve (prefiro-os aqui - sei lá -, me protegem).

Sinto o abraço efêmero do famoso "tudo vai ficar bem" e sei que não posso pensar.

Vem meu orgulho e a tudo autua. O enfrentaria, mas hoje é daqueles dias, tem gente olhando... O que eu diria... - sei lá -.

[respira fundo~troca canção no media player do celular]

Foda, dia de nada, o sono aumentando a porra dos nós do lado dele da corda.

Mas, na boa, se quisesse... eu... Superaria.

Certeza, lembrei a data, são os hormônios que fazem eu me sentir - sei lá - meio idiota.

[confere cabelo e maquiagem~pede parada~desce do coletivo]

Digo que não, digo e repito. Não falo que sim, nem tento persistir, 

não penso mais no quesito.

[atravessa a rua~se aproxima demais do muro~lembra que precisa se afastar]

Hoje é nenhum dia, dia de nada, as horas vão passar rapidamente... 

Do jeito que eu queria.

Mas - sei lá -, as 23:59 estaremos acordados... E ao rodar o relógio...
 

"Feliz novo dia" seria o que ele diria.

- sei lá -.

#PHpoemaday

terça-feira, 23 de junho de 2015

Crônicas do Frio (23) - Uma Releitura

Uma Releitura (Mais Um Cândido[?])
Ah, esse é o melhor dos mundos, meu caro!
Como tudo isso é raro...
Meu mais recente Estado
É agora meu lindo e mais agradável dos castelos
Possíveis

Minha bela dama, não me rendeu um pé na bunda
Apesar de ter também me feito...
Experimentar ambos enrubescidos, causa e efeito
Atrás de biombo, na chuva, no chão, no quarto
E onde puder imaginar, as ciências do corpo
Repetidas vezes de modo
Bruto e de certa forma
Sensível

Mas, expulso do paraíso terrestre me vi
Quando guerra nossos países
Travaram

Amputados, membros mão e pés
De um lado
Seios, coração, cabeça
De outro lado

Grito ao meu caro tutor:
“Como pode? Dizes estar o melhor possível, mestre-filosofo-menino?”

E eis que de resposta:
“Se não conhecesse causa e efeito

Do belo presente italiano 
Que um dia tivestes nas mãos,
E mergulhastes profundo no corpo,
E que bebestes inebriado da mente,
Não voarias pelo mundo,
Nem conhecerias os teus limites,
Não traçarias melhor teu plano
Travaria em todos os nãos
Quiçá um belo vagabundo,
Ou o mais competente dos tristes
Agradece à bela que te libertou e com respeito
É o melhor possível sem contraposta.”

Ah! Maldito otimista que me rende
Que vejo padre e governador argentino
Tomar-me a amada
Que mato mentalmente um cristão
hipócrita por dia
Pra continuar minha jornada
E que indago sempre:
Tudo está o melhor possível
Mesmo se o saldo te torna
Desprezível?

Sigo donquixoteando pelas veias

Multicoloridas da selva
De pedra

Credos e cores nos tentando devorar
“Calma, ‘é o melhor’, por isso assim está”
Encontro rubis e ouro dentro
De pessoas e descubro
Que não os expõem
Pois o homem
Tudo e todos
Consome

* * *

Sem bela princesa em castelo
Meu castelo sou eu
Sem mestre filósofo-metafísico-orientador
É simples
Sem otimismo cego
Que seja

Inteligente

O tal otimismo
Cego

É

Alter
Ego



#PHpoemaday

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Crônicas do Frio (22) - O Realismo Fantástico

O Realismo Fantástico 
  • (Aviso: Violência, Referência Sexual, Horror)
  • [P.S: Impróprio para pessoas que tenham mente fértil feat. nojo]
  • {P.P.S: É  sério. Depois diz que não foi avisado(a)}

O Julgo



Uma noite fria de setembro, aquela. Robert Stoneshoulders caminhava calmamente pelas calçadas da sombria Newlake´s Valley. O vento constante e uivante acompanhado por uma névoa célere e rastejante tornavam o clima mais sinistro do que já poderia ser. As ruas pavimentadas transpiravam um ar misterioso e macabro... Cada prédio ou construção, à noite, transformava-se – juntamente com a projeção de suas sombras - em monstros de diversos aspectos em seu silêncio doentio e ao mesmo tempo avassalador. Ao entrar em contato com o duro piso da calçada e por vezes do asfalto meio-molhado, os sapatos sócio-espotivo pretos de Robert faziam ecoar e retumbar por todo um quarteirão o som de sua passagem.

Com sua beca “paletó e gravata” desarrumada e seus cabelos assanhados, o Dr. Stoneshoulders (que mesmo não possuindo doutorado, nem sendo médico ostentava tal título) trazia em seu bafo alcoólico – e num perfume barato que se mesclava ao seu Jandoire – a prova de que estivera numa festa ou confraternização pessoal. O cheiro de sexo exalava de seu corpo.

domingo, 21 de junho de 2015

Crônicas do Frios (21) - A Pedra do Reino

A Pedra do Reino (O Deserto...)


Acordas. Acordado, percebes que tudo funciona como se noite ainda e as luzes estivessem apagadas. Imaginas as pupilas dos seus olhos dilatadas. Começas a caminhar e teus passos ecoam. Há atmosfera. Sente a brisa. Na rua, vês o vento levando, devagarzinho, algumas folhas de papel brancas num passeio rodopiante; divertido.

Tudo em preto e branco e com todos os tons possíveis de cinza. É uma cidade. Com prédios de dimensões impressionantes. Com janelas quadradas e equidistantes – não fosse a variação de cinzas todas lembrariam enormes tabuleiros de damas/xadrez.

Os carros estacionados. Tantos e de tantas marcas diferentes... Outdoors luminosos lá no alto, oscilando em P&B e anunciando o que tu, provavelmente, nunca te interessarias em comprar.
Depois de tanto tempo e depois de tanto andar, te afliges um pouco por não encontrar um alguém sequer. Desconfiando que talvez pudesses, pensas em voar para encontrar uma alma viva ao menos lá de cima. Mas, lembras: "estou acordado. Acordei uma vez e há horas".

De repente a brisa para. E todos os papéis bailando e deslizando como pássaros fincam no chão – como se sugados pelo óbvio.

Crônicas do Frio (20) - O Parque de Diversões

O Parque de Diversões (Locomotiva)


- Quê isso, môço?
- Como é, menino? Você não sabe o que é isso?
- Sei não, môço! Xô vê?

[deixa ver]

- Ixe, môço! Pra quê esse tróço?
- É diversão, moleque sem instrução!
- É não, môço! Divêrtí é brincá, corrê e pulá. Vô lá. Tchau.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Crônicas do Frio (19) - O Gerúndio

O Gerúndio


A promessa de passeio ao parque provocando a espera da criança.

O problema a ser solucionado trazendo expectativa sem confiança.

O amor não correspondido incendiando esperança no acaso.

A maldade que há nos homens destacando negação nos desavisados.

O que precisava ser dito ficando no peito engasgado.

Os fantasmas das ações mortas insistentes confundindo o que foi e o futuro.

Um pouco do que falam de Deus, só enxergando-O onipotente e dono de tudo.

Parcela do amanhã ou do passado começando e não terminando nunca mais.

O que não finaliza o que começa, só vive jurando ao infinito, e por isso não satisfaz.




#PHpoemaday

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Crônicas do Frio (18) - A Transexualidade

A Transexualidade


Não quero falar. Vocês pensam que sabem, mas não sabem.
Não vou dividir. Vocês dizem que entendem, mas não entendem.

É bom e é legal ver e ouvir coisas sobre o que acham que sou.
É tão importante para os outros que digam coisas ao meu favor.

Não quero falar. Eu entendo o esforço em ajudar, mas não ajudam.
Não vou dividir. Eu percebo o sacrifício em me proteger, mas não protegem.

É bom e é legal sentir o amor de vocês por alguém que acham que eu me tornei.
É tão importante para mim que me recebam independente de tudo por isso nem questionei.

Me tratam como um animal exótico.
Me tratam como um artefato biológico.
Me tratam como um ser aquém da natureza.
Me tratam como um pierrot triste na fortaleza.
Me tratam como um doente sem recuperação.
Me tratam como um coitado sem determinação.
Me tratam como um presente de grego no país de Tróia.
Me tratam como um ser humano perdido e sem escapatória.
Me tratam como um aleijado de passado, presente e futuro.
Me tratam como um surdo-mudo correndo no escuro.
Me tratam como um principezinho bancando a donzela.
Me tratam como um menininho que possui uma mazela.
Me tratam como um velhinho que precisa de muleta.
Me tratam como um bebezinho que perdeu sua chupeta.

Me tratam... Me tratam...
Maltratam... Maltratam...

Não quero falar. Vocês pensam que sabem, mas não sabem.
Não vou dividir. Vocês dizem que entendem, mas não entendem.

É bom e é legal e tal... Eu me olho e não me vejo – percebe o desespero? Só eu sei quem sou.
É tão importante, eu sei, mas não sou especial, olhem para mim como igual por favor.

Não quero falar. Eu entendo o esforço em ajudar, mas não ajudam.
Não vou dividir. Eu percebo o sacrifício em me proteger, mas não protegem.

É bom e é legal sentir o amor de vocês por alguém que acham que eu me tornei.
É tão importante para mim que meus pais me recebam... Mas sou mais que o sexo.


E todo ser humano passa por esse estado de mudança que atravesso.
Não preciso que me desvendem, só deixem eu me encontrar.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 17) - O Ranger dos Dentes

O Ranger dos Dentes


A espuma fumegante gira no sentido horário na superfície do líquido preto dentro da xícara; o aroma inebriante da cafeína estimula todos os meus sentidos. O vidro líquido e negro reflete a luz que incide do teto transformando meu prazer num espelho. Me vejo. Minha imagem destruída. A espiral é contínua, mas gradativamente perde a velocidade – espalhando minúsculas bolhas que, sozinhas, não suportam o inferno daquela bebida e estouram assim que abandonam a unidade. Aproximo aquele hálito quente do nariz e experimento a sensação de ter uma fonte termal de energia única e exclusivamente minha. Sorvo. Sinto a ponta da língua incendiar. Inflama a boca, garganta e estômago. Espiro ar quente provocando o frio do lugar e, condensado (coitado!), esfumaça em espirais, ameaçando seu gêmeo resfriado com um ataque –. Mas logo adere ao abraço gélido e toca meu rosto (evitando apenas aproximar-se do café). Levanto o olhar. Acompanho o vapor até etéreo ele virar... Observo um ponto perdido no teto de madeira.

É foda! Deveria estar tomando tequila. Ouço minha voz escapando dos meus pensamentos.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 16) - A Febre

A Febre


Adentra o Desespero carregando nos braços a Esperança às portas do Hospital. O corpo dela grita: algo não está normal.
O jaleco sem rosto explica: calma, isso é coisa casual.


Trancada no quarto a Solidão arrastando pelos pulsos mais um Sísifo montanha abaixo rumo ao destino fatal. A mente dele grita: algo não está normal.

Os olhos na TV da sala afirmam: calma, isso é coisa hormonal.

Irrompe o Choro jorrando da boca a Miséria na esquina de uma igreja santamente infernal. O estômago dele grita: algo não está normal.

Os homens de lata abatinados e seu gado cospem: calma, isso é coisa trivial.

Invade o Traiçoeiro a Independência arduamente conseguida. Dilacerando corpo, espírito e a dignidade feminal. O último mal da caixa de Pandora grita: algo não está normal

Os juízes dos bons costumes de alma ressecada apontam a vítima e atestam: calma, isso é coisa proposital.

Persegue a Inocência a Justiça irrepreensível, incontestável, abismal. Trovejam gerações, jornais, pais em apelo sem igual. Vitae verte e escorrendo pelo asfalto grita: algo não está normal

O colarinho engravatado e esvaziado em pronunciamento anuncia: calma, isso é coisa acidental.

Injeta a Morte uma fuga dentro das veias nos guetos e leva embora dor, medo e sonho de forma habitual. A convulsividade mórbida grita: algo não está normal.

Os arreios enclausurados em seus carros se convencem: calma, isso é coisa sazonal.

Desfalece a Impotência agarrada ao Efeito Colateral na sala de espera do hospital. O corpo dele (...) é só corpo.

O jaleco sem rosto aos olhares vorazes identifica: calma, isso é coisa natural.


#PHpoemaday

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 15) - O Delírio

O Delírio (Precipitação)


Dia de precipitação...
Chove lá fora...

E eu disse "sim". Mas, por quê "sim"? Achei que não. "Melhor se 'não'".
Mas, veio o "sim". Me toma o "sim". E engole o "não". Mas, ouço o “não”. 
E digo "sim"! E quero sim! Na mente "não"! Na mente "não"? 
No corpo "sim"! O ardor diz "sim!" Balbucio "não"... E o pudor vem: "não"! O estupor quer: "sim"! O suor diz: "sim"! 
[sim...]

Arrancar-lhe pedaços: "sim"! Sentir o sabor: "sim"! Puxar-lhe os cabelos: "sim"! Desfazer-se nele: "sim"! Entregue inteira: "sim"! Afogar-me em mim mesma: "sim"!
Sim... Sim...
[não...]

Agora "Respeito?" não! "Bondade?" Não! "Ternura?" não! "Pureza?" não! "Com calma?" não! "Ser frágil?" não!
Não pare, não... Não pare, não...
Não... Não...

Dentro de mim chove...
La fora, precipitação.

#PHpoemaday

domingo, 14 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 14) - Os Estilhaços

Os Estilhaços (Misturados)


Quem não tem teto de vidro que atir...

[PR'LIIIIIM ZTRAAASH FRLIIIIM SSCRAAASH...]

(...)

[SSCRAAASH PR'LIIIIIM SSCRAAASH FRLIIIIM...]

(...)

[tac... tic...]

Agora somos tão iguais nos erros que estamos ambos misturados pelo chão.




#PHpoemaday

sábado, 13 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 13) - O Futuro do Pretérito

O Futuro do Pretérito (E Se...)


Ela sobe o lance de escadas.
Convicta do que entende e não aceita.

Ele, da porta, a acompanha com o olhar a se afastar.
Convicto do que não entende, mas aceita.

Violão na mão, certa do que não quer.
Coração não mão, certo do que quer.

Ela para.
Ele não respira.

Ela gira levemente o ombro direito pra trás, a cabeça acompanha o movimento ate conseguir fitá-lo. Os cabelos lambem o ombro (que pára no caminho) e escorrem pela testa deixando a mostra apenas seu grande e belo olho castanho.


Ele observa cada gesto que ela faz, seus músculos tensos não permitem ao ar entrar. A ressaca daquele olhar ameaçava traga-lo. O sangue em desespero fervia o corpo inteiro a procura do ar que não vinha, mas resiste sóbrio aquela magia.

Com duvida do futuro ela pensa "E se...", abre o portão e se vai.
Com certeza do pretérito ele sabia... Que depois daquele olhar tudo à frente a entristeceria.

#PHpoemaday

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 12) - O Equilibrista

(P.S: Mudei o gênero por conta da inspiração [rs])

"A" Equilibrista


Adolescente, mãe. Inconsequente, mãe novamente. 
Se une inocente por ser mãe. Maturidade vinda previamente. 
Percebe a vida, mãe. Independente, olhos à frente. 
Trabalha inda criança e mãe. Com duas crianças, segue resistente. 
Separa, prossegue mãe. Responsabilidade surge frequentemente. 
Apaixona e mais uma vez mãe. Adulta, acredita no amor firmemente. 
Dois meninos, uma menina: mãe. Emprego, lar e leito, mulher persistente. 
Vítima de canalha por ser mãe. Foge, revida, mulher combatente. 
Viaja e recomeça, mãe. Filhos a tiracolo, mãe é permanente. 
Labora e protege, mãe. Cuidar dos filhos, da própria mãe e permanecer atraente. 
Compra casa, paga as contas, mãe. Às crias: educa, se sacrifica, futuro diferente. 
Precisa viver, mãe. Casa novamente, muito mais exigente. 
Mais um rebento, mãe. Desdobra, multiplica, mulher definitivamente. 
Não pode do esposo ser mãe. Outro reinicio mulher imponente. 
A vida leva dela o primogênito e a mãe. Arrancado um pedaço, mulher impotente. 
Reergue, arrasada, mãe. Filhos, responsabilidades, mãe ininterruptamente. 
Luta, batalha, mãe. Deusa equilibrista, mulher simplesmente.


#PHpoemaday

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 11) - A Eutanásia

A Eutanásia (A Escolha)
Legenda - *Voz* [Sussurro]


*Se Deus quiser. * 
[Eutanásia]
*Amanhã eu vejo.*
[Eutanásia]
*Se eu merecesse...*
[Eutanásia]
*E se me disser não?* 
[Eutanásia] 

*Deixo nas mãos de Deus.*
[Eutanásia]
*Com medo, ajoelho.*
[Eutanásia]
*Se eu pudesse...*
[Eutanásia]
*E se eu ceder em toda pressão?* 
[Eutanásia] 

*Só Deus sabe.*
[Eutanásia]
*Deixo estar e não desejo.*
[Eutanásia]
*Não vivo sem você.*
[Eutanásia]
*E se de mim eu abrir mão.*
[Eutanásia]

*Por que, [Deus?
Eu*tanásia]
*Vergonha do [espelho.
Eu*tanásia]
*Se do céu [caísse.
Eu*tanásia]
*Sem você a [vida não tem razão.
Eu*tanásia]

*Deus vai [me dar.
Euta*násia]
*Não ajo, [prefiro bocejo.
Euta*násia]
*A culpa nunca é [minha. Já disse!
Euta*násia]
*Por que ninguém [me dá atenção.
Euta*násia]

*A culpa é [sempre do diabo (ou de Deus)!
Eutaná*sia]
*Eu até [reagiria, mas tudo é empecilho.
Eutaná*sia]
*Ah, mas [se eu fosse você.
Eutaná*sia]
*Eu sou a [vítima! O mundo não tem coração.
Eutaná*sia] 

[Deus, Deus, Deus, Deus!]
*Eutanásia*
[Eu até viveria, mas Deus não faz nada direito.]
*Eutanásia*
[Ah, mas Deus me deixou morrer.] 
*Eutanásia*
[Nada fiz na vida! Deus, me dá salvação?] 
*Eutanásia*



*#PHpoemaday*

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 10) - A Artéria

A Artéria (Jogo do Não Acorda)


Desperta. Os olhos no teto. Estes gradativamente assimilam a escuridão. E, no quarto, as imagens assumem palmo a palmo um padrão. Enche de ar os pulmões. De...va...gar... Prende a respiração. Na cama. O calor que emana próximo deita-lhe um breve calafrio de satisfação. Liberta o ar dos pulmões. De...va...gar... Move a cabeça à procura da fonte e o emaranhado de lençóis desnudam dedos numa suplica preguiçosa. Tão próximos que o foco do todo se perde e o quarto é uma mistura acinzelada de tons, sons quase inaudíveis... E só há cores nos perfumes, sabores nos gestos mais procurados e ao mesmo tempo evitados.

Arrisca. Os olhos nos seios da mão que pede. Revela com suave movimento do rosto o pulso por baixo do edredom. Desliza, aspirando o gosto dos relevos, suavemente... Paulatinamente. Suspiros de sonolência se fazem ouvir. Um revirar e a mistura de colcha, coxas e curvas, desenham enlevos que lembra os montes fluminenses. Aguarda o protesto atenuar. Di..ssi...par... Pousa os lábios vagarosamente onde no braço a artéria está evidente.

Prossegue. Os olhos fixos nas linhas sinuosas a seguir. Resvalando o maxilar como acariciar. Tem certeza que não a despertará. "Ao menos não, até chegar onde quero chegar." Revela o colo e o hálito já quente mostra a direção. Seguindo a artéria, a boca sedenta pelo toque ao pescoço - que tanto queria. Viu arrepio. Parou completamente e simulava que jamais ar teria.

- "Estou acordada desde os dedos, Amor..." Ela abre os olhos e desafia: - "pensou mesmo que nesse jogo você me venceria?"


#PHpoemaday

terça-feira, 9 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 9) - O Elefante

(Enquanto Isso no Canal da Descoberta)

O Elefante


Era uma vez... Um elefante.

E um dia decidiu andar na bela selva que conhecia. Saber se seu povo e o mundo o receberia. Sentir a brisa no rijo couro o apeteceria. Brincar com a tromba n'água o divertiria.

Foi dessa vez... Um reles infante.

Sua memória não trai, mas sua paquiderme inocência, ah! ela sim o faria. Porque "todos" e "tudo" só o consumiria. Sofrer a ferro e ao fogo o aguardaria. Ver os seus dizimados o torturaria.

Foi por sua vez... Em pele a fonte.

Encelado no cemitério de ossos, galhos e vida. Sedentas sombras esguias a mastigarem suas forças. Cordas, lanças e olhos cobiçosos refletindo marfim.

Era uma vez O Elefante.

Implacável em revide ao passar na bela cidade que encontrava. Sua memória não trai e a revanche "todos" e "tudo" arrasava. Devolveu de presente o cemitério de ossos, madeira e vida enfim.



#PHpoemaday

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 8) - O Cinza

O Cinza


“Protege, protege e procura!
Corre, corre e estaca!
Ouve... Sente... 
Prova o ar!”

“Derruba, bagunça e espalha
Provoca, foge e esconde!
Geme... Persistente... 
Quer ver chegar!”

“Deita, levanta e percebe!
Espera, espera e dispara!
Saudade... Saudade... 
Vai ao portão buscar!”


“Contente, contente e encontra!

Pula, ladra, quer ‘abraçar’!
Se só enxerga... em tons de cinza... 
Nem parece se importar!”



#PHpoemaday

domingo, 7 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 7) - O Cacto

O Cacto


Esquivando para chegar ao centro.

Apto e interessado. Determinado e focado.
As agulhas desejosas, ameaçam.
Cuidadosamente e carinhosamente, aproximando do âmago.

Desejando a todo o momento.
Intrépido e motivado. Esforçado e apaixonado.
Os floretes florescendo, ressonam.
Instintivamente e antecipadamente, esfriando o estômago.

Chegando, não há sentimento.
Estático e consternado. Indignado e discriminado.
As pontas insistentes, procuram.
Definitivamente e imperiosamente, esquivando para evitar o estrago.

Mas, pensando... Porque o lamento?
O cacto não é um pedaço. Inteiro, todo; como enunciado.
As dores evitadas, colaboram.
Inevitavelmente e consequentemente, para sentir amor, os espinhos devem ser abraçados.


#PHpoemaday

sábado, 6 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 6) - O Molho de Chaves

O MOLHO de Chaves
(perdidas)




Ele perde tão fácil.
Sempre tão "avoado".
Vive na rua.
- "Ta com a cabeça no mundo da lua, menino?"
Não lembra onde guarda nada.

Se livra dos objetos.
Prefere as sensações que as coisas.
Corre na rua.
- "Cadê as chaves de casa, menino?"
Frio na barriga, à procura, dispara em debandada.

A brincadeira logo se transforma em desespero.
"Cadê? Cadê? Cadê?" E os olhos lavados.
Esquece da rua.
- "Não acredito! Perdeu outra vez, menino?"
Esvai-se em lágrimas em frente a porta trancada.

Ainda perde coisas tão fácil.
Ainda sonha acordado.
Ainda passa mais tempo na rua.
- "Porque nesse colar tem chaves, menino?".
Ri-se ao lembrar de si menino e da mãe bem zangada.



#PHpoemaday


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 5) - O Lá Menor

O Lá Menor


EU SEI, só não queria ser óbvio, mas não resisto ao acorde.
Acho tão sugestivo o nome que solicita o despertar.
Prazer que dá ao fazer o caos nas cordas reverberar.
Acordam sentidos, alma e o som causa arrepio.

AINDA É CEDO e tento até ser sóbrio, mas pensar em lá menor dissolve.
Mesmo sendo seletivo ao dedilhar ou arpejar.
Derreter o relógio e se perder nas horas quando o violão ressoar.
Desnudam vozes, tons e o frisson continua vadio.

AONDE QUER QUE EU VÁ, relembro o tom de sorte.
Que ate versos ganha em homenagem.
Insisto no toque, tentando não destoar.
Provoco a ordem, encho o espírito com as canções que toco em dias de frio.



#PHpoemaday

Era Um Garoto (II) - 05 Anos Depois

05:50 


Foi a hora em que realmente despertei hoje (um palíndromo perfeito).

Pensei “Oi, Deus! Obrigado por mais um dia!”.

Ao sentar na cama e olhar o celular (05:55) eu tive que olhar para cima novamente; lembrei: “Hey, Cara! Nem lembrava: Obrigado por mais um ano!”.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Vinte e Poucos An... Anh? (...) Era Um Garoto (I) - Mother: I Love You


Espero QUE...





... Você tenha APROVEITADO AO MÁXIMO.,

P.S: Mãe, eu a amo!
P.PS: Esse é "meu presente de aniversário" pra ti.

Crônicas do Frio (Dia 4) - O Silêncio

O Silêncio

Pára tudo, cessa tudo, o vazio, o vazio, sem um som, um só som e à mente um desafio:

(...)

Todo silêncio precisa ser preenchido.

Só no mundo, só com todos, só no quarto, tão sozinho, tão sozinho, fone ao ouvido e à rádio um desafio:

(...)

Todo silêncio precisa ser preenchido.

Míngua diálogo, sem assunto, olhar que foge, olhos que buscam, respiração forte, respiração densa, lábios secam e ao desejo um desafio:

(...)

Todo silêncio precisa ser preenchido.


#PHpoemaday

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 3) - O Espelho

Nota: Esse tema era do desafio do ano anterior (Junho 2014). Me confundi... Fazer o quê? [rs]
O Espelho 




Meu mundo é o contrário do seu.
E eu te sigo. Não sei o motivo. Apenas persigo.
Meu universo paralelo só faz sentido 
Se teu olhar, mesmo de relance, encontrar o meu. 


E se finges não me ver, pratico o mesmo ardil.

Mimetizo cada gesto, aprisionado à tua aparição.
Simulo, mas não sinto: dor, calor, amor, frio.

Me registras em fotografias e como um servo o teu riso plagio.

Anseio por águas calmas, vitrines, telas escuras, metais polidos.
Me usas como referência, conferência, preferência.
Devaneio imaginando-me sem ti e o cenário é vazio. 

Não sou tu e tu não és quem sou.
Refletido nos teus olhos penso talvez na libertação.
Logo o limite do espelho acaba e percebo que o sonho cessou.





#PHpoemaday

Crônicas do Frio (Dia 3) - O Labirinto

O Labirinto

Sente a falta de ar
Vem a claustrofobia
A dependência e a prisão
Unidas em um só espaço
Desvia a atenção
Finge que não sabia

Pensa: “como fazer para não me perder?”
Distrai e corre atrás 
Daquilo que satisfaz 
Mas é momento 
É como a vida: passageiro
Dobra a esquina esperando
O para todo o sempre 
O que dure o tempo inteiro

Constata: “ando em ciclos de círculos”

Esbarra na mesma parede
Nos mesmos corredores
No mesmo chão
Nesse perfume: o embaraço
Nesses olhos: a abdução
Nesse abraço: se enlaça na rede
Suspira comovido:

“mais uma vez perdido em ti;
Nesse labirinto sem solução.”



#PHpoemaday

terça-feira, 2 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 2) – O Céu de Hoje



Nota: Esse tema era do desafio do ano anterior (Junho 2014). Me confundi... Fazer o quê? [rs]
O CÉU de Hoje


Frio...

E que de cinza fosse branco. Neve era o que eu queria.

Vento. E que de brisa fosse ventania. Tornado era o que eu queria.

Garoa. E que de pingos fossem chuva. Tempestade era o que eu queria.

Umidade. E que de promessa fosse névoa. Cerração era o que eu queria.


Mas amo...


Cada cinza de vento,
Cada névoa de umidade,
Cada promessa de garoa,
Cada pingo de frio.



#PHpoemaday

Crônicas do Frio (Dia 2) - A Menina Marina

A Menina Marina



Não conheço nenhuma menina Marina.

Conheço marina.
Conheço menina.

Se Marina eu conhecesse queria que fosse marina.

E que me sorrir fizesse com o caís do seu coração na sua inocência divina.





#‎PHpoemaday‬