quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Era Um Garoto (XIV) - O dia em que eu morri

“Nossa atitude insincera perante à morte torna a vida insípida e vazia” .

(FREUD, Sigmund)


“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na 
nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela”
(PESSOA, Fernando)





O dia em que eu morri


Há poucos dias - diria: há pouco tempo - eu morri. Calma! Eu não morri de verdade, verdadeira! Morri só um pouquinho. Coisa de poucos segundos. Meu coração não podia me representar tão bem se não se rebelasse contra mim. 

O que já não é novidade na minha história. É a terceira vez que o acontece, mas foi a primeira vez que me ocorreu extremamente sozinho (e depois de ter esquecido completamente disso).

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Era Um Garoto (XIII) - Afastamento

"Era uma despedida de ti, intencionalmente prolongada, com a peculiaridade 
que ela, apesar de imposta por ti, corria na direção que eu determinava"
(KAFKA, Franz. Carta ao Pai)


Afasto



"É uma característica do signo", me disseram. Ué! Tem uma galera que acredita na máxima que inventei agora "geminianos são brisa e tornado quando dá na telha". Prefiro, particularmente, a ideia da autonomia e maturidade emocional. Que, convenhamos, tá longe de ser plena a senhora maturidade. Mas, inevitavelmente uma hora rola um certo afastamento.

De repente a pessoa some. Não liga, não manda mensagens, não whatsappeia... Quando adolescente essa característica era descrita com um adjetivo: antissocial. Mas, contraditoriamente, a sociabilidade tão natural contrasta com essa, digamos, peculiaridade.

Ter a duplabilidade (neologismo?) de saber aproveitar a solidão e aproveitar momentos na companhia de alguém, viver surfando nessa quase-dicotomia, não é tão difícil quanto parece. Ao menos pra mim. Difícil é explicar o porquê. Mas, não custa tentar. Afinal, talvez responda os afastamentos alheios, também. Geralmente ocorrem por dois motivos: de forma indireta e/ou direta.


Afastamento

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Suicida Sobrevivente - (55th's Sessions)

"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, 
e quando existe a morte, não existimos mais" (SAMOS, Epicuro de)


Sobrevivendo



Mais uma vez acordo e não quero abrir os olhos. Sinto dores. É engraçado como não consigo reconhecer exatamente a área específica das partes do meu corpo a doer. Não sei exatamente que ponto da perna... Talvez a parte de trás do joelho que também não sei o nome. Não sei se a nuca ou o pescoço... Ou mesmo as costas. 

Ah! Foda-se! Meu sexo está dando bom dia ao dia, sem faltar. Isso me anima. A ereção matinal já me faz abrir um esgar de sorriso e ao mesmo tempo os olhos. Deitado de bruços, agarrando o travesseiro, meu quinto membro pressiona o colchão e, no auge de minha infantilidade, acho isso divertido; ao mesmo tempo viril.

As dores de viver somem. Os olhos fecham com prazer. O sorriso permanece e o pênis pulsa. Lá no "pé da barriga" a bexiga reclama "me ajuda aê, cara!". O esgar vira um pequeno ruído. Era um riso. A felicidade, como poucos imaginam, pode às vezes, aparecer entre bocejos, espreguiçamentos e ereções matinais.

Mas, o cérebro clama sua cota. Todos os pensamentos se voltam para a urgência na existência. E o céu vira inferno em questão de segundos. É manhã de terça-feira, as dores no corpo voltam, meu pau desfalece e vem o desejo inquietante de simplesmente morrer.

É. Eu sei. Estranho e, parece meio covarde. Mas, acordo querendo não ter acordado, às vezes. É uma cadência: imagino uma bala perdida esfacelando o cérebro; em tesmpestades, que alívio seria se um raio arrebatasse a minha alma para o céu; em minhas viagens de avião, quem dera um míssil o explodisse em pleno ar; em sonhos lindos e tranquilos, quem dera o coração batesse em outro plano de existência.

E aí, fim. Ponto. C'est fini.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Bad blocks: porque não caçar bons sentimentos em locais bad feelings

A partir de um certo ponto, não há retorno. Este é
o ponto que é preciso alcançar
.
(KAFKA, Franz)

 

Bad blocks


Viver é acumular experiências e por diversas vezes elas não são apenas boas. Grandes momentos podem ser recheados de bad vibes. Ah, mas o inverso também procede: Bad vibes podem ser recheadas de grandes momentos.

O que marca, guardamos na memória. E há um perigo de que se torne um bad block. E aqui vai uma explicaçãozinha (quase desnecessária) nerd e me desculpe por começar dessa forma

Um bad block é o que acontece com o HD (disco rígido) do seu PC quando há um setor defeituoso, que pode ter uma causa física (hardware) ou por conta de uma programação (software).

Você sabe que o HD, explicando de modo bem grosseiro, serve para gravar programas, documentos, fotografias, vídeos e etc. Mas, antes que isso pareça um tutorial tech sobre hardware e software vamos ao foco do tema:

Bad blocks, em nossas vidas, são pedaços do nosso contexto histórico, que por algum motivo foram danificados. Geralmente por super bad vibes, ou seja, experiências bem ruins, mesmo com pessoas ou coisas que deveriam ser boas.

Planos que não deram certo, pequenas e grandes tristezas, aqueles momentos que feriram as expectativas, os erros, fracassos... 

O emprego perdido, dívidas, fim de relacionamento, aquela pessoa que você amava loucamente e hoje finge que não te conhece, incompreensão, pequenas injustiças and going down, down, down...

Bad block
 

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Esperança: a arte de massacrar a alma

Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos 
fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la mais terrível de 
todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este. 
(CAMUS, Albert)

Esperança


Esperança: a arte de massacrar a alma


Era noite. Caminhávamos discorrendo filosofia pós-adolescente e coisas sobre filmes, jogos, RPG, mulheres e coisas assim. À época, ainda formava meu conceito sobre a existência do ser e sua relação com o mundo, mas eu era narrador e aspirante a escritor e isso significa que já havia configurado diversos universos em minha mente. Todos eles, lógico, baseados no existente. E aos poucos fui percebendo que esperança é uma dicotomia em si.

No caminho, enquanto divagávamos, encontramos um filhote que hoje a memória falha em relação à espécie (se gato ou cachorro). Meu bom amigo, um apaixonado pelas coisas da natureza, sempre avesso aos sofrimentos que as criaturas que não têm nosso raciocínio para se defender, logo se viu tocado.

Estava subnutrido, cheio de pequenas feridinhas, com os grandes e enérgicos olhos prescrutando qualquer movimento. Apesar da raça não me vir à mente com clareza, a expressão e as condições são inesquecíveis. Doía no peito de ver, sim.

Então, quase que instantaneamente, cheio de ternura e pena, o meu brother se dirigiu com afeto para acarinhar o pequeno animal. Eram sinceras as suas intenções. Eram as melhores possíveis. Ele estava realmente pesaroso por um filhote estar naquelas condições e éramos sempre impulsivos, meio inconsequentes, as emoções falavam mais alto sempre.

Mas, de repente, uma iluminação me fez gritar:

"NÃO!"

terça-feira, 14 de março de 2017

O combinado

"O planejamento, em excesso, asfixia a iniciativa e engessa o progresso" 
(SOUSAHélder Sena)



O combinado






O combinado parece um modelo mal
plagiado de Eduardo e Mônica, a diferença primordial é que o casal da canção está diluído entre os protagonistas dessa história de março.


Sim! Março. 2015. Pouco tempo depois das varias imigrações e aglutinações, a universidade decidira trazer a jovem guerreira até o laboratório de informática do térreo em definitivo.

Por mais que a parca memória flexione para maio (por conta do radical ou da rima), havia pouco tempo que ela completara 19 verões.

domingo, 12 de março de 2017

Minha mãe morreu pra mim

"Para fazer esquecer as nossas faltas aos olhos do mundo são precisas torrentes de 
sangue; mas, junto de Deus, basta uma lágrima" (CHATEAUBRIAND , François)


Minha mãe morreu pra mim


Quantas oportunidades que descontrolam seu autocontrole te fazem pensar na vida? Consegues contabilizar? Eu não consigo parar de me emocionar. O choro vem, sem nem ao menos eu o refrear.

Olho para o teto. Lembro de anedotas. Abro a boca convulsivamente, mas as lágrimas vem... E escorrem de maneira tal que não me deixam preparado para o porvir. Muito menos para o que há. Penso: "será que estamos prontos para a vida"? a cada gota acachoeirada deslizando pelas maçãs do rosto.

Minha mãe morreu pra mim. 


quarta-feira, 8 de março de 2017

8 de Março: Por que eu daria parabéns às mulheres?

Toda dominação pessoal, psicológica, social e institucionalizada nessa terra pode
ser remetida a uma mesma fonte original: as identidades fálicas dos homens

(DWORKIN
, Andrea )


Por que eu daria parabéns às mulheres?



Mulher




Eu tive a cara de pau de nascer homem num mundo de mulheres. E o descaramento vem, mas não das questões biológicas do gênero.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Era Um Garoto (XII) - Dor

"Eu prefiro ter vivido uma vez, do que nunca ter vivido" 
(CAGE, Nicolas. Cidade dos Anjos. 1997)




Na Dor, Resistir

Para todas as vezes que a dor vir e a resposta for 'não seguir em frente'



Sentir dor faz partir; seja ao meio, seja do meio. 
Mas, o correto é desistir?

Aliás, algumas sensações sempre serão interpretadas como tal. E esse texto, o primeiro de 2017, fala justamente o quanto se deve resistir e seguir em frente.

Uma das definições de dor é a experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial. Não é algo simples. Sentir dor e se doer são definições bem distintas, mas ambas podem, facilmente estacar alguém num determinado lugar para não mais sair de lá.

Mas, alguns sofrimentos físicos e emocionais são inerentes do estar vivo. Viver dói. O sangue rasgando as veias para chegar aos órgãos provoca sensações. O primeiro invadir do ar aos pulmões é um sufoco. Os primeiros passos depois de horas na mesma posição, também.