domingo, 12 de março de 2017

Minha mãe morreu pra mim

"Para fazer esquecer as nossas faltas aos olhos do mundo são precisas torrentes de 
sangue; mas, junto de Deus, basta uma lágrima" (CHATEAUBRIAND , François)


Minha mãe morreu pra mim


Quantas oportunidades que descontrolam seu autocontrole te fazem pensar na vida? Consegues contabilizar? Eu não consigo parar de me emocionar. O choro vem, sem nem ao menos eu o refrear.

Olho para o teto. Lembro de anedotas. Abro a boca convulsivamente, mas as lágrimas vem... E escorrem de maneira tal que não me deixam preparado para o porvir. Muito menos para o que há. Penso: "será que estamos prontos para a vida"? a cada gota acachoeirada deslizando pelas maçãs do rosto.

Minha mãe morreu pra mim. 


Mas, durante a declaração (dela mesma) de que havia morrido. Um soco no estômago.
Estranho, não é mesmo?

Que mundo é esse, que estamos tão aquém da inexistência de alguém que só a sentimos quando há a divulgação do seu perecer? (...) É o nosso, infelizmente. Bauman já o previra... Mas nós não nos preparamos para tal (como nunca o fizemos).

Durante um diálogo com a minha progenitora (mulher mais importante no que concerne à minha existência no mundo), recebo a informação: durante uma endoscopia, tive uma parada cardio-respiratória e precisei ser reanimada.

Anima, sobra como eco na mente.

Procuro pontos de segurança nesse mar de intensidade. "Como assim?" grita a mente, pressionada pela passionalidade da vida. "Um exame tão simples, trazer uma consequência tão grave", continua prescrutadora.

Mas, onde estão as respostas? Em lugar algum. Por quê? Porque elas não existem. É a vida. E na sequência que ela roteirizou para mim, minha mãe morreu. As lágrimas não apenas brotaram, se entregaram à atmosfera como pouco antes.

Mas, minha mãe renasceu.


Muitas mães morrem e não renascem por aí... E me faz pensar no Gênesis bíblico, que aludindo à criação refere-se à vida como um sopro. Nada mais.

Uma pessoa, das mais importantes, fez a analogia entre a vida e batatas no asfalto. "Significa que a gente tem que se planejar. Que precisamos fazer planos. Que nós não temos que estar preparados... Como batatas no asfalto. Batata no asfalto se cria? Nao se cria... Portanto..."

Nunca na vida havia ouvido esse ditado. Me fez pensar um tempo sobre ele e a resposta.

Me veio:

"A vida é um caminhão de batatas que virou na estrada. Elas precisam continuar rolando. Umas vão encontrar o solo, outras irão parar e definhar sob o sol, outras, paradas, serão esmagadas por outros veículos, outras vão se manter em movimento... E a vida segue seu curso"

Precisamos seguir em frente.

Minha mãe, que me beijou a alma no seu primeiro dia de re-vida, me lembrou que o futuro não só não existe, como não está nem um pouco sob o nosso controle — assim como o agora —.

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