sexta-feira, 28 de abril de 2017

Esperança: a arte de massacrar a alma

Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos 
fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la mais terrível de 
todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este. 
(CAMUS, Albert)

Esperança


Esperança: a arte de massacrar a alma


Era noite. Caminhávamos discorrendo filosofia pós-adolescente e coisas sobre filmes, jogos, RPG, mulheres e coisas assim. À época, ainda formava meu conceito sobre a existência do ser e sua relação com o mundo, mas eu era narrador e aspirante a escritor e isso significa que já havia configurado diversos universos em minha mente. Todos eles, lógico, baseados no existente. E aos poucos fui percebendo que esperança é uma dicotomia em si.

No caminho, enquanto divagávamos, encontramos um filhote que hoje a memória falha em relação à espécie (se gato ou cachorro). Meu bom amigo, um apaixonado pelas coisas da natureza, sempre avesso aos sofrimentos que as criaturas que não têm nosso raciocínio para se defender, logo se viu tocado.

Estava subnutrido, cheio de pequenas feridinhas, com os grandes e enérgicos olhos prescrutando qualquer movimento. Apesar da raça não me vir à mente com clareza, a expressão e as condições são inesquecíveis. Doía no peito de ver, sim.

Então, quase que instantaneamente, cheio de ternura e pena, o meu brother se dirigiu com afeto para acarinhar o pequeno animal. Eram sinceras as suas intenções. Eram as melhores possíveis. Ele estava realmente pesaroso por um filhote estar naquelas condições e éramos sempre impulsivos, meio inconsequentes, as emoções falavam mais alto sempre.

Mas, de repente, uma iluminação me fez gritar:

"NÃO!"