sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Presente em sete dias (Go with the flow)

“Sabe oq fico pensando
Q deve ser mt mais do que vc descreve
Não poucas vezes que eu me pego pensando nisso
Será se um dia a gnt consegue?”

Aproximo

Venho tentado aprimorar a conversa entre você, que me lê, e eu, lírico ou nem tanto. E devo aconselhar que não é uma boa me ouvir (seja lá como minha voz soe na sua mente) enquanto ouve álbuns como “AM”, “Babylon By Gus - Vol. I: O Ano do Macaco” ou “After Hours”.

Nossa experiência, juntos por aqui, tem se tornado quase um guia turístico e uma coluna musical. Na última vez que nos vimos, bem, me debruçava sobre meus pedaços reenergizados, após Pernambuco me temperar ao sabor dos ventos e de som. Isso me lembra outro momento sobre ser "brisa e tornado quando dá na telha" ...

Se você é um rosto conhecido, provavelmente sentiu o pareamento com a minha mente. Afinal de contas, minhas introduções trazem um pouco de como a narrativa surge no meu cérebro. Se teve a oportunidade de ouvir áudios meus, sabe bem do que estou falando.

Ainda continuo o mesmo escritor medíocre – abaixo da média tantas vezes que o impostor diz ter síndrome de mim – e também mantenho firme a ideia que fazer minhas palavras chegar até você é mais emoção que gramática. “Mais entrega, mais viver e sentir, mais derramar-se do que qualquer outra coisa”.

Então, se prepare! Esse é mais um texto a la Jackson Pollok.


fluxo Jackson Pollok
Um tantinho de digressão para estimular a criatividade


Uma vez “criei” a palavra duplabilidade para dar qualidade à capacidade de aproveitar a solidão e momentos na companhia de alguém. É, eu sou metido a neologismos. Era 2017, não havíamos passado por uma pandemia, e apesar do que eu disse, ficar só não é tão fácil quanto parece.  Não se incomode em me contestar. 

Seres humanos são contraditórios em tantos aspectos e eu não sou menos humano pra me considerar o arauto da retidão. Eu sou tortinho, longe de ser um santo. E, mesmo com os afastamentos corriqueiros, devo dizer que estar perto é tão necessário que eu preciso explicar para você. 

Viajar é sempre momento de reconectar, voltar às raízes, e (talvez) quanto mais quente, mais o corpo sente. Atravessar o país não fosse por si já uma parada quase transcendental, é – com certeza – um desfibrilador natural. Mil motivos podem te levar a alçar voo, mas tantos anos de toque ausente foi o que fez meu coração ir a Manaus.

Eu aprendi que, algumas vezes, precisamos pôr as coisas em perspectiva para perceber o valor que elas possuem. Pisar no lugar mais delicioso de respirar que já encontrei, me ajudou a sentir o quanto faz diferença estar a 2700 km daquilo que é meu objeto de desejo desde que me considero jornalista. 


Hiperinstantaneidade
Questão de perspectiva


Eu ainda sou “hiperinstanâneo”! Ainda faço mil coisas e encaixo mais ainda para me manter ocupado, deixar meus sentidos alimentados. Me entupindo de estímulos, ainda é mais fácil tentar não criar expectativas em encontros e/ou aceitar melhor os desencontros. O famoso “Ih, não vai dar? Ah, beleza! Tou indo num Karaokê aqui com o pessoal! ”, sabe?  

E se a pergunta pra isso é “‘move on’ é suave pra você? ”, vou ter que te dizer sim... E não. Eu sou facilmente adaptável a um momento de solidão, mas, para mim, a presença de quem quero é extremamente desejável. O significante precisa, de certo modo, combinar com o significado. Faz sentido pra você?

Se me dizes “quero te ver”, o próximo passo é movimentar-se em direção a mim. Se o dito não combina com o feito, minha atenção se volta para algo mais presente. Mas, passivo, eu respondo com reação. 

No entanto, quando dono da ação, eu aproximo. E tudo se torna um encontro das águas tão voraz quanto quando o rio encontra o mar. Entende? Eu movimento tudo, bagunço, provoco, faço acontecer. Muitas vezes, quebro a cara, mas, sabe?, eu prefiro isso que o "e se" quando faço nada. 

Você veio até aqui? Muito bom! Se quiser, pode ir. A partir de agora, as palavras começaram a ganhar sentidos e muito mais vida. 

Vai continuar? 

Vou te deixar à mercê da poesia em prosa. Que os altos e baixos desse percurso te conecte um pouco mais comigo… e contigo.

 


 

GO WITH THE FLOW

“‘I thought Fangorn was dangerous’.

'Dangerous!' cried Gandalf. 'And so am I, very dangerous: more dangerous than anything you will ever meet, unless you are brought alive before the seat of the Dark Lord. And Aragorn is dangerous, and Legolas is dangerous. You are beset with dangers, Gimli son of Glóin; for you are dangerous yourself, in your own fashion. Certainly the forest of Fangorn is perilous — not least to those that are too ready with their axes; and Fangorn himself, he is perilous too; yet he is wise and kindly nonetheless”.

(TOLKIENJ.R.R., The Lord of the Rings)

 


Deixar-se levar; deixar-se envolver!
Deixar-se levar; deixar-se envolver

Vindo dos rios de pedra de esse pê, cada mergulho do rio no céu, é no espelho Negro que meu reflexo eu fui ver. Se meu destino é ser pecado, parte desse orgulho flui de um certo Rio para afundar num abraço acalorado… e úmido! Como explicar o arrepio no seio entre Abruzzo e Lazio, de tão raro, que me aguardava no porto do pássaro de aço?

Sobre voar no asfalto, o que olhos procuram é sempre achar o retrovisor. Atrás das lentes do meu visor, a mente permite que suor e arrepios se atraiam sem prejulgar invasor. Um toque em cada curva fez Santos Dumont pedir bis. 14 nuvens no céu do Mobi e Manaus virou Paris. Torquato Tapajós tem quatro tons por jazz e só o som do Way é mais que grunge, indie e diss. 

O que teve Mario que Djalma quis? O grito ao Ipiranga fez Batista raiz? Constantino, pá, tão imenso que é possível só no eriçar dos pelos ir pelas ruas fluindo. Naipe Constantinopla, na convergência, vem o encontro das águas entre Ituxi e o Eiro. A pororoca de sentidos quase derruba o prédio inteiro. A mão grafita a parede burguesa dos Vieiralves. Qualquer urro de torpor foi assinado por Gonçalves.

Toda fome que me come é uma fatia minha que Manaus consome com vontade. Some à vaidade ao não-fastio e o que some é o tempo. Sirvo, sorvo, sugo, sinto, sigo mais sedento. Se há ombro mordido pelo sabor da saudade, há aquarela em cinco tons de dedos, desejo e cidade. Língua dentro de todo mar doce para a sede saciar. Sê de chuva e inverno manauara para fluir no Madeira e se permitir boemizar. Chupar os dedos e apimentar até mesmo o que nunca esperava esquentar de tanto molhar.  


DESCOBRINDO MEU LUGAR

"Lugar melhor no mundo eu não conheço outro
Platônico e na prática é ginástica
Atômico, arrepia os cabelinho, é tipo estática"

(ALIENBlack., Vai Baby, 2019)




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E quando o lençol da calmaria da consciência começa a cair, não tem delicioso cone de pirarucu, inigualável tacacá, primoroso tambaqui, nem mesmo o verdadeiro açaí, que te faça fugir da percepção de que não há espaço se o lugar não espera por você. Leia “lugar” da maneira que melhor combinar. 

Orgânicos que somos, reagimos com paixão ao que queremos com todas as forças. Arfamos, perdemos o fôlego, gaguejamos, derramamos humores, choramos, nos questionamos, desenvaidecemos, lutamos, nos sacrificamos. 

Somos lenientes quando simplesmente só não queremos mal. Displicentes se acreditamos que amor cativo é trivial. Para acessar toda a paleta de cores de um rolê, mesmo o menos intenso, não é possível se não estiver perto o suficiente.

Não é possível sem querer.

Na UFAM, Black Alien me arrebatou mais uma vez (dentre tantas outras). Me fez reconhecer que meu espaço, se existir, não poderia ser ocupado. Mas, que é no movimento que eu sou valorizado. 

Que a necessidade incessante de ter a mim, não pode ser imposta pela minha ausência/presença. E que o objeto de desejo, independe do que sinto. Que expectativa não precisa de anuência nem respeita experiência.

Mas, me lembrei o quanto humano sou. Fervo ferro e fogo quando me toca a alma. Com um sopro tiro a calma e se explode o silêncio quem se vai é o flow.  


CALOR EQUATORIAL

"Esse é meu presente.
Por um lado, sei que o futuro não existe.
Por outro, eu sei que o futuro é logo ali."


Como não falar de "Ar" e "Fogo" num clima de fazer tanta gente derreter? Espero que você não tenha se perdido demais no lirismo acima. Mas, preciso dizer que esse finzinho é aquele raiar de consciência que vem quando estamos ébrios a nos enganar, afirmando nosso controle de tudo. Não temos. Ainda estamos no fluxo.

No entanto, eu me apoio no signo para me justificar: esse é meu jeitinho geminiano de te fazer entender a intensidade de lá ter estado. De aqui ter te trazido. O ascendente em Sagitário faz seu papel de curtir a e à vontade.

Hoje, 21 de janeiro, mais uma vez o sol saiu para fazer ao primeiro dia de Aquário o pedido de um beijo de Ar. Assim, o sabor úmido percorre todo o Brasil e deságua até mesmo na selva de pedra e concreto onde resido, onde provavelmente estou ao escrever essas linhas. 

Meu presente é um paradoxo temporal, tal qual a viagem para o passado que é obrigatoriamente feita para quem procura se aventurar em tão emaranhadas florestas, levado pela lenda da Cobra Grande. É um sobejo de saudade e carícias, e muito de realização de finalmente alçar voo para alcançar o meu desejo. 

Eu voltei, mais uma vez. Das mil vezes que fui, voltei. É estranho e bonito relembrar que sempre estive suspenso entre tantos lugares e sempre estou aqui. Ainda estou entre a janela do quarto que sempre — e nunca estive — e um lugar dentro de cada pedacinho de você. 

Você consegue imaginar? 

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Sim, consegue! 

Mas, daqui para frente o meu pedido é: vem junto… Que a mão tão quente, o respirar tão profundo sempre se intensifica, quando eu sinto que o querer é mútuo.


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