quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Era Um Garoto (XIV) - O dia em que eu morri

“Nossa atitude insincera perante à morte torna a vida insípida e vazia” .

(FREUD, Sigmund)


“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na 
nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela”
(PESSOA, Fernando)





O dia em que eu morri


Há poucos dias - diria: há pouco tempo - eu morri. Calma! Eu não morri de verdade, verdadeira! Morri só um pouquinho. Coisa de poucos segundos. Meu coração não podia me representar tão bem se não se rebelasse contra mim. 

O que já não é novidade na minha história. É a terceira vez que o acontece, mas foi a primeira vez que me ocorreu extremamente sozinho (e depois de ter esquecido completamente disso).

Narrarei rapidinho os três acontecimentos, mas de pronto começarei pelo mais próximo. 2017 é, sem dúvidas, um ano exigente; desde seu início vem pedindo sacrifícios dos mais difíceis de acreditar. E, belo dia, enquanto eu estava suprimindo um dos vícios que adquiri depois que me tornei semipaulista(no) - comer queijo quente no café da manhã -, uma dor no peito me fez desfalecer no balcão da padoca (singelo apelido das padarias de São Paulo).


A vida é um sopro
A vida é um sopro

Mas, foi algo gradual. Eu senti que algo iria acontecer. Aliás, como todas as outras vezes. Dessa vez, mais preparado, acreditando que fosse uma queda de pressão, pedi ao solicito atendente que me conseguisse sal. Ele prontamente o fez e enquanto o senhor tecia uma lista de considerações sobre os problemas de pressão, uma lança trespassou meu plexo solar e a dor me fez paralisar o corpo. 

Vagarosamente fui deitando a cabeça no balcão, os olhos nada mais viam e, de repente, apesar de ouvir o mundo lá fora e ter o olfato e tato ainda apuradíssimos, não enxergava mais. Nem força me sobrava. Quer dizer, eu tentava falar, mas sabia que não conseguia balbuciar as palavras que eu pretendia. Eu as pensava tão facilmente, porém fazê-las sair... Que dificuldade. 

Finalmente, pensei que eu estava morrendo. Em um milésimo de segundo eu me questionei: "será que ainda estou vivo?" Por que, na maior, como a gente sabe? Não tem como! E nesse momento pensei em tudo o que deveria ter feito e as coisas que eu deixei de fazer.

Aceitei ajuda de estranhos. Os ouvia ligando para o SAMU e descrevendo a minha situação. "O garoto teve um infarto aqui! Está morrendo! Cês tem que vir logo, meeeu!". Engraçado que uma das primeiras frases que me dirigiram quando cheguei a esse estado continha o "garoto". 

Apelido que me batizaram no tempo que vivi em Pernambuco. Essa coincidência só me fez pensar que eu estava deixando São Paulo - e a vida - da maneira que havia chegado: com acolhimento e um pouquinho de adivinhação. "a vida", que drama!

Mesmo assim, logo lembrei da primeira vez que senti algo semelhante, num momento de extremo stress, com direito a mamãezinha pedir ajuda a um amigo para me levar a um pronto socorro. "colapso nervoso", disse o plantonista.

Tive que realizar alguns exames depois de certo tempo e, descobri que, mediante certa carga desse tal de estresse (aportuguesei, percebeu?), uma certa disritmia me acometia. Mas, nada sério demais. As chances de que eu empacotasse eram aproximadamente as mesmas de alguém tão saudável quanto eu. 

Só que, a gente esquece que é finito. Eu esqueci.

E foi assim que, no meio de uma discussão, já nesse querido Estado que me acolheu tão bem, percebi que algo muito ruim acontecia com meu disritmado coração. A gente tem medo de umas coisas tão estranhas... Essa era a segunda vez e na hora eu pensei: 

"não posso morrer na frente de quem se preocupa comigo". Desci do coletivo e, sem forças para sustentar o corpo, tombei. No processo, feri meu rosto, mas ainda assim, o orgulho estava intacto. "mais drama!", hei de concordar!

Apesar de ser semelhante as outras duas, dessa vez - a única que eu havia me esquecido completamente de que eu posso simplesmente deixar de existir -, senti que a morte me tocava. 

O orgulho foi à lona; me senti abraçado quando um bando de desconhecidos estendeu o braço (como não havia acontecido da segunda vez, nem mesmo por quem intentava a tal "dedicação máxima" - coisa que a gente descobre ser bobagem com o tempo).

E mesmo já imaginando o pior diagnóstico, entre os formigamentos do meu corpo e as vozes que se perdiam entre preocupações no fundo, o gosto ácido e férreo na garganta, o cheiro da mussarela e do café com leite tão próximos, eu pensei em tudo o que eu deixei de fazer para viver São Paulo. E assim que a mente estabeleceu essa minha escolha de lugar, logo em seguida veio o porquê de aqui estar.

E o porquê sorriu para mim. A voz rouca e ainda infantil. Pedi a Deus que me mantivesse vivo. Ao menos para que eu pudesse cuidar de mim, para que depois eu pudesse cuidar de tudo o que vim cuidar daqui.

A gente não percebe, mas acaba vivendo da maneira menos humana possível para atingir os nossos objetivos. O simples fato de esquecer que nós, um dia morreremos, é desvalorizar a vida que nós temos. 

Os caras do SAMU me disseram que, aparentemente, eu estava vivendo acelerado demais. "Você precisa comer e dormir melhor" e eu ouvi alguém ao longe dizer "tão novo... tsc, tsc, tsc" e eles finalizaram dizendo que "você anda estressado demais".

Como dá para perceber, apesar do susto, estou bem para contar história. Aliás: histórias. Lembrei da família maravilhosa que eu tenho, assim como as maravilhas de pessoas que me abraçam aqui nesse lugar. 

Pensei no quanto essas pessoas sofreriam demais ao saber que a vida resolveu me levar daqui. Aliás assim que recobrei a força e os sentidos, a primeira coisa que as pessoas mais importantes para mim receberam foi um "eu te amo".

Piegas. Clichê. Mas, o que seria viver de verdade senão ser clichê e piegas vez em sempre?

No mesmo dia, o Falcão - vocalista do Rappa - teve um infarto e foi parar no Hospital. Não morreu. Acho que outro cara desses aí, celebridade do passado, também sofreu uma parada e quase se foi... Parece aviso ou só coincidência. Sei lá.

É uma publicação de retorno. "À vida" e ao blog. hahaha

De pensar melhor nas decisões que se toma daqui para frente. De dizer que ama quem realmente desperta o amor em você e de sonhar... Mas viver... 

E se alimentar bem, também! Cortei muito carboidrato, gordura, sódio e glicose depois disso. huehue Tudo bem que ontem eu comi um yakissoba acompanhado de um BigMac (dois-hambúrgueres-alface-queijo-molho-especial-cebola-picles-e-um-pão-com-gergelim-é-bigmac-BIGMAC!) feat. batata frita com quatro queijos... E antes de ontem eu comi um cheeseburger chicken-bacon e depois tomei um açaí...


Ai meu Deus!

2 comentários:

  1. O Stress é o mal do século 21.
    O ritmo, a rotina, e um monte de outras coisas atacam nossa mente constante e implacavelmente. Somos humanos, mas as vezes precisamos viver como se fôssemos máquinas, tá ligado?

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