quarta-feira, 11 de julho de 2012

Vinte e Poucos Anos (XXIX) - A 1ª Ida 3/3 [Narrativa]



 PESSOA...



- "Preciso IR..." Ela disse.

... Voltar à realidade foi um choque. Quando me vi já estava ali, vendo-a ir em direção ao carro com passos rápidos.
Os lábios ainda formigavam.

Quanto ao resto do corpo? Febre. Cruzar o espaço geográfico da recepção até o quarto foi uma travessia ébria. Um movimento demorado e ao mesmo tempo anestesiado. Nem lembro bem e já tinha tomado um banho frio e estava do jeito que prefiro embaixo do edredom. Só por mania levanto pra dar uma olhadinha se a porta está fechada. Aninho-me de volta na cama que parecia já ser minha. O motor dos carros de Fórmula 1 zuniam e meus olhos vidrados no teto – ainda guardo essa mania de deixar a TV ligada enquanto durmo. Mesmo assim cochilava e despertava!



Ainda sentia a intensidade daquele beijo. O corpo fumegando.
Depois de um tempo, a noite/dia (auxiliada por um pouco de caipirinha e cerveja de horas atrás) me abraçou completamente.


Ver os olhos dela arrebatando-me nos sonhos foi incrível! Bem aquilo que sempre imaginei! Tenho uma capacidade inenarrável de sonhar sempre que durmo ou apenas fecho os olhos e começo a imaginar. É como se me transportasse pra um universo meu, mas que agora eu tinha em comum com ela.
E no meio dos meus devaneios oníricos um ring-ring me desperta no susto. A recepcionista diz que ela está na recepção. Coração vem à boca! Vejo a hora no celular, “11hs”, levanto de um pulo e corro pra uma ducha gelada! “Preciso despertar!”.


Ao sair do quarto penso: “Banho em tempo recorde!”. Reconheço que passo muito tempo debaixo d’água... É como se lavasse todos os problemas. A indisposição some e renova as energias.
A agradável recepcionista disse que ela estava na sala de espera e segui direto, grato totalmente.
Ao entrar, deparo-me com ela. Linda! Não pelo combinado de cores Ciaro & Iscuro das roupas que contrastavam com sua pele, olhos e cabelos... Nem pelo “bom dia!” meigo e afável que deslizou de sua boca e acariciou meus ouvidos, tão pouco por sua beleza estonteante de mulher misturada àquele tracejo de molequice no sorriso meio tímido e olhar franco...


Mas sim, no jeito simples, preguiçoso, natural e original. O dia propagando a falta de afetação que ela possuía e essa simplicidade a tornava ainda mais admirável.
A espontaneidade a fazia ter um senso de humor que ela mesma desconhecia e ouvi-la dizer “Ôxi! Não acorda, nunca!” com um tom de cobrança marota e crítica ingênua me fez rir e sentir-me bem demais. Estávamos famintos e ela decidiu apresentar-me ao lugar onde poderíamos comer: onde ela trabalhava. Como um menino que recebe um presente e tanto, fico ansioso.


Compramos o que já virou nossa cara comer: salgados!
Rimos bastante e foi engraçado vê-la comer! Seguido sempre pelo já usual “Que foi? Quê que cê ta olhando?!” eu seguia pensando: “Ela é incrível!”.

Impressionante como cada lugar e coisas ficam marcados como únicos a partir de certos gestos. “Você é ‘cooperado’? Tem ‘nota fiscal paulista’?” nunca faria nenhum sentido ou traria alguma boa lembrança antes desse momento.


Saímos e damos aquele velho rolé e em passos curtos conversamos sobre tudo... E nada.
Sentimos o vento e o tempo passar. São Caetano do Sul é um bairro que permite aos casais se ouvirem; é um ambiente bonito e silencioso. “Até demais! Lugar de velho morar! Deus me livre!” ela reclamou algumas vezes. Por diversas vezes sinto um cheiro doce de frutas preencher o ar. Penso: acho que ela tava mascando Tutti-frutti. Logo, associo esse cheiro ao de seu corpo e me sinto muito bem. Sentir-me um pirralho de novo é inacreditável e extraordinário. 
É uma sensação agradabilíssima e eu me deixo levar pelos sons, cheiros, imagens e toques provenientes dela. “Sorrir com gosto e vontade sufoca as dores e afasta a maldade” Se a dor e a maldade me provocaram um dia eu nem lembrava mais.


Na cadência de seus passos seus cabelos dançavam com o vento e ondulavam tons melódicos e compassados que suavizavam e fascinavam o cenário ao redor.
Tragado pela sua beleza eu só conseguia responder “Você.” à sua pergunta recorrente sempre que me flagrava solvendo sua presença.
Ela precisava descansar e decidimos voltar ao ponto de partida.


Mais tarde, ao sairmos em direção à Santo André, o clima de Sampa dava as caras. Tempo frio e fechado – eu adorando, lógico! 
Rapidinho nós pegamos um ônibus e a fiz seguir para um assento alto (gosto muito deles).
Mais um tour pela cidade tocada por mais uma noite. Dessa vez o escuro era dominical e preparava os andreenses para mais uma segunda-feira.


Chegamos e, mais uma vez, fui recebido com o coração aberto. Foi um prazer fatiar tudo o que eu sabia do Recife e explicar para anfitriãs totalmente curiosas. Simplicidade me cativa. Ser tratado como um membro da família, ser levado à mesa, ouvir gargalhadas gostosas e brincadeiras bobas me fez me sentir residente e não apenas um visitante. Fui "adotado" como irmão mais velho pelo irmão mais novo dela. Tanto carinho me embeveceu. “Você é um rapaz bom! Gostei de você!” Frases de mesma natureza, fizeram-me sentir constrangido, mas ao mesmo tempo abraçado.
Depois do jantar prometido, brincamos de pular e pagar certo mico em frente à TV – bendito game do X-Box360 –.

Tudo muito simples.... Tudo muito incrível!

Horas depois, nós dois já tendo voltado ao quarto de hotel no Grande "C" do famoso ABC paulista, penso bastante da música do Aerosmith: I don’t wanna close my eyes. I don’t wanna fall asleep cause I miss you, babe and I don’t wanna miss a thing... 

E também do horário em que dissemos o feliz novo dia um para o outro: "05h47"

E o mais importante...:

- “Eu te amo!” rememoro-me falando baixinho em seu ouvido.
- “Eu também te amo!” Ela declarou.


Tenho certeza absoluta: meu lugar é aqui.

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