Na hora do Rush nem a montanha vai ao maomé
Horário de pico, chuva e rodovias sucateadas? Não, não... A pergunta é: Será que há realmente algum projeto de mobilidade urbana que possa nos salvar de nosso consumismo emergente?
Trabalhar com informação tem suas vantagens (conhecimento é achar que tem poder). Afinal, sair de casa atrasado (1 hora e meia) para o estágio e ter a convicção de que vou levar o mesmo tempo que estou atrasado pra chegar à empresa não seria a mesma coisa se eu não tivesse uma fonte de distração: a informação. Sei (por método empírico-intuicionista) o número de carros que circulam nas principais vias. Vamos admitir: número exato mesmo eu não sei; mas tenho certeza que mais dia menos dia haverá mais quilômetros de automóveis do que estradas disponíveis no Brasil. Na famosa rush hour (hora do rush [pra enfatizar que eu sei falar inglês!]) todos os acessos aos centros das cidades ficam travados. Porém, sendo mais específico, vou me ater à região metropolitana do Recife (e o próprio dito cujo Centro do Recife) pra reiterar que dificilmente qualquer projeto de mobilidade urbana solucionaria esse problema. Na verdade, acredito que em pouquíssimos anos, quando deixar de ser projeto é claro, seria obliterado - ou sendo menos exagerado: ficará obsoleto. É óbvio que com a Copa do Mundo de 2014 batendo à porta alguma coisa que visasse uma revolução na estrutura física do Estado e permitisse acessibilidade, facilitando o famoso direito de ir e vir é de muito bom tom. Mas havemos de convir: é um sonho utópico (olha aí: já me especializando nas redundâncias). Nem as obras do corredor Norte-Sul, Leste-Oeste, da BR-101 (um dos meu desesperos), Via Mangue, alargamentos, duplicações e inclusões; nem os quase 1 Bilhão de Reais a serem investidos... nada disso é páreo para a praga do consumo exacerbado da nova Classe C e seu total desapego ao público.
O bendito cara que disse "Governar é construir estradas!", nosso presidente Washington Luís, quando decidiu investir seu governo na construção de rodovias não contava com a nova Classe C e sua sede consumista frenética e a consequente necessidade de status social adquirido (e atribuído também, porque não?).
Pagar colégios particulares para os filhos (livrar os filhos das escolas públicas), pagar planos de saúde (livrar-se da saúde pública) e, onde eu estava desenhando chegar, comprar um carro (livrar-se do transporte público). A Classe C emergente (Assim como o Brasil em relação ao Mundo) tem uma tendência a mostrar-se importante.
Ora! E porque não? Tanto tempo sofrendo às custas de governos desestruturados e corruptos que não possuem senso de patriotismo e valorizam interesses privados em detrimento do bem público... Fica difícil não responder. E mais difícil ainda não valorizar o que foi conseguido com sangue/suor. Mas aí vem a armadilha: valorizar apenas o que é seu é cuidar só de interesses privados, porque a essa altura público é depreciativo - sinônimo de lixo.
Então, o cidadão consegue seu dinheirinho e consegue por a cabeça para fora desse oceano de dificuldades e pensa: "não quero isso nunca mais!" Certo? Certo! No entanto, qual o próximo passo desse indivíduo? Desvalorização do público (conceitualmente falando). Ele irá pagar um plano de saúde ao invés de lutar pela saúde pública. Vai custear uma escola particular ao invés de interceder pelo ensino público dos seus filhos. Vai comprar um carro (porque já cansou de ouvir "não gostou, vai de táxi!") no lugar de reclamar seus direitos de cidadão e adivinhem só... Ele está fazendo a economia girar... É a nova classe média, o dinheiro está nas mãos dele. O governo? Ah! O governo sabe disso e abaixa a porcaria do IPI pra os que como ele, zumbificadamente, comprem seus carrinhos zero quilômetro com cinco vagas (incluindo a dele, motorista, claro), mas que ele faz questão de andar só, fingindo que é o dono do mundo, quando na verdade gasta com emplacamento, IPVA, combustível, estacionamento e um monte de outras variáveis que o fariam comprar outro carro no final do ano. E pra quê? Pra ficar parado num engarrafamento, travando a própria vida e a de todos os outros que acreditam estar desfrutando de seus direitos de cidadãos. Na verdade, são apenas consumidores usando um produto que não serve bem ao que se dispôs a servir.
Lógico que essa visão é para os cantos de cá; Recife. O PIB pernambucano cresceu 4,6% em relação ao primeiro semestre do ano passado enquanto o Brasil só 0,8% (cinco vezes mais!). Quando se fala em processos economicos Recife vira referência nacional tanto pelo pólo petroquímico (Suape), quanto pelas indústrias e dezenas de novas empresas que aqui se estabelecem. Por que? Mercado e consumo.
Voltando ao advérbio: Cá entre nós... Você que vive numa metrópole ainda não sentiu que passou da hora de algo mudar? Não falo em termos políticos, mas de responsabilidade individual para com o bem comum, mesmo. Se você ainda considera o público lembrando apenas de banheiro público... Ainda corro o risco de ficar sentadinho no assento do ônibus, olhando para você no seu carrinho com as mãozinhas no volante, pela mesma 1 hora e meia num outro engarrafamento totalmente desnecessário.
Pois é, esse é o nosso mundo, globalizado, informatizado e todos os outros izados, nada melhora, andamos em círculos, o governo nos dá poder de compra, porém não nos garante a certeza de podermos honrar o compromisso que adquirimos, assim sendo, continuamos com a falsa sensação que estamos melhorando de vida, hipocrisía, utopia e todos os outros ias...
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