“Toda dominação pessoal, psicológica, social e institucionalizada nessa terra pode
ser remetida a uma mesma fonte original: as identidades fálicas dos homens”
(DWORKIN, Andrea )
(DWORKIN, Andrea )
Por que eu daria parabéns às mulheres?
Eu tive a cara de pau de nascer homem num mundo de mulheres. E o descaramento vem, mas não das questões biológicas do gênero.
Nasci no planeta Terra, mulher na configuração e inclusive no nome, mas simplesmente por ter sido gerado com um Y no lugar de um X, tudo é meu.
Que cara tenho eu de dizer "parabéns"?
Somos tão malandros, que no planeta mulher, "homem" é sinônimo de "ser humano". Como pode?
Por mais que mulheres mães solo enfrentem duas (e até três) jornadas de trabalho (tal qual a minha mãe), bastou eu crescer um pouco e já era o homem da casa. A matriarca transformou-se numa cidadã de menor prestígio dentro do reino que fundou, ergueu e proveu, só por eu ter um pênis. Mas, claro, não bastava ter um piru; eu era macho.
Se eu entro numa sala de mulheres, automaticamente a terceira pessoal do plural passa de "elas" para "eles".
Se eu pesquiso no Google o termo "médico" ou "bombeiro" aparecem homens profissionais, mas é só mudar para o gênero feminino que fotos de mulheres fantasiadas em fetiches sexuais aparecem.
Nem falo sobre a diferença entre "enteado" e "enteada" ou "primo" e "prima" na ferramenta de buscas.
Hoje, sinto que ser homem e fazer um supertexto dizendo "Feliz dia da Mulher" poderia gerar o mesmo sentimento que receber os parabéns do ladrão depois de levar tudo o que você tem — e ainda fazer uma festa social por isso —.
Fomos ensinados a diminuir as mulheres para meninas, a enchê-las de inocência ou de sensualidade para desmerecê-las, a mima-las em datas especiais para que fiquem ali, quietinhas, satisfeitas com o nosso bom grado.
Ser homem sempre foi procurar fragilizar a mulher para se valer da máxima "sexo frágil", quando na verdade nós morremos de medo que esse jogo vire.
Imagina só — contextualizando aqui nas terras tupiniquins, claro — todo o foco para a Copa do Mundo de Futebol das Mulheres e uma notinha de rodapé para o Torneio Internacional Masculino? Uma lista com as mulheres mais ricas e bem sucedidas do mundo em vez da manchete sobre a mulher do milionário fulano de tal ter comprado a loja de roupas inteira (e ter saído com um milhão de sacolas do shopping)?
Ou quem sabe: se os homens começassem a respeitar, de verdade, as mulheres no lugar de ficar dando florzinhas e fazendo declaraçõeszinhas de amor num dia de protesto, luta e reflexão.
A maioria, gigaaaaante maioria, não faz a mínima ideia do que o 8 de Março significa. Há alguns anos, o autor deste texto (isso mesmo, estou falando de mim na terceira pessoa) também não sabia. Fez um lindinho "Carta às Mulheres" e recebeu de uma amiga a resposta "Migo, nem li pra não ficar com raiva".
Hoje, relendo aquela bela missiva, parece o escárnio de um bon vivant que se refestela num mundo de gueixas e ainda diz "obrigado". Lógico, a intenção não foi essa, mas...
Eu não tenho condições morais de dizer "parabéns".
A vergonha na cara me impede.
Mas, tenho a obrigação moral de pedir perdão.
Anseio pelo dia em que haja equidade na nossa sociedade. Que mulheres tão injustiçadas a vida inteira (tal qual mainha), não precisem viver as sombras de homens, que nunca representariam o sinônimo de humanidade mais que uma mulher o faria.
Em homenagem ao #oitodemarço, Dia Internacional das Mulheres, em nome de todas as atitudes imbecis que eu já cometi (mesmo a imensa maioria tendo sido mesmo sem querer e/ou perceber) e de viver numa sociedade que me favorece só por ter um pau no meio das pernas e ser macho "pra caralho!", eu sinceramente, peço desculpas.
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