sexta-feira, 19 de maio de 2017

Era Um Garoto (XIII) - Afastamento

"Era uma despedida de ti, intencionalmente prolongada, com a peculiaridade 
que ela, apesar de imposta por ti, corria na direção que eu determinava"
(KAFKA, Franz. Carta ao Pai)


Afasto



"É uma característica do signo", me disseram. Ué! Tem uma galera que acredita na máxima que inventei agora "geminianos são brisa e tornado quando dá na telha". Prefiro, particularmente, a ideia da autonomia e maturidade emocional. Que, convenhamos, tá longe de ser plena a senhora maturidade. Mas, inevitavelmente uma hora rola um certo afastamento.

De repente a pessoa some. Não liga, não manda mensagens, não whatsappeia... Quando adolescente essa característica era descrita com um adjetivo: antissocial. Mas, contraditoriamente, a sociabilidade tão natural contrasta com essa, digamos, peculiaridade.

Ter a duplabilidade (neologismo?) de saber aproveitar a solidão e aproveitar momentos na companhia de alguém, viver surfando nessa quase-dicotomia, não é tão difícil quanto parece. Ao menos pra mim. Difícil é explicar o porquê. Mas, não custa tentar. Afinal, talvez responda os afastamentos alheios, também. Geralmente ocorrem por dois motivos: de forma indireta e/ou direta.


Afastamento



Não esperar quando está esperando (indiretamente) 
trocadilho bobos - os adoro 

Espera! Calma, que eu descrevo melhor essa parada: eu desenvolvi essa característica de hiperinstantaneidade (neologismo?), tenho a tendência a fazer mil coisas ao mesmo tempo, no espaço vago entre uma e outra, encaixo mais coisas. Esse, o indireto, por me tomar tanto, e pluralizar criatividade, que me distraio. Daí fí, ocupa mais de 80% das reclamações em relação aos meus afastamentos. Já cheguei a desconfiar que tenho TDAH (pesquisa lá).

"Ezemplo"? Bem... Se marco algo e chego (muito) antes ao local, procuro coisas que me tomem o tempo. Pode ser dar uma volta pelo ambiente ou jogar algo no smartphone, mas geralmente produzir algum texto. 

Leio vários livros ao mesmo tempo. Assisto várias séries ao mesmo tempo. Isso enquanto escrevo uma coluna/matéria, ouço Arctic Monkeys e baixo compro um filme. E olha que em minha adolescência quando eu conectava a Internet parecia que tinha invocado o T-Rex pelo som que fazia (é um exemplo pra dizer que era lenta, manja?).

If you ask me "O que isso tem a ver com afastamento?", I answer to you: "mêni fsings". Essa peculiaridade me faz não criar expectativas em encontros. Me faz parecer não ligar se não rolar. Sacomé? Se durante a minha espera eu recebo uma mensagem dizendo que não vai dar, that's ok! Eu me interesso automaticamente por alguma outra coisa, pois eu não estava esperando. Tem seu lado good.

Quando se trata de relacionamento, por exemplo, isso não me faz ser um cafajeste e ficar com um milhão de pessoas ao mesmo tempo, mas me permite entender que a qualquer momento puft as coisas podem simplesmente não mais serem. E minha resposta para o não continuar algo é seguir em frente, parecendo que nada aconteceu na minha vida. 

"Corta pro parecendo, minha filha!" Sentir é diferente de transparecer o que se sente. Apesar de vários lugares dizerem que se dedicar exclusivamente ao trabalho e maratonas de seriados remete à depressão, é uma válvula perfeita para não ficar na expectativa alimentando ansiedade e mais ansiedade. 

Daí o porquê eu não ficar olhando mais o Whatsapp de cinco em cinco minutos (apesar de aparecer online para tirar a notificação que me dá agonia de ver lá) e responder o seu "Segunda-feira! Que a semana seja maravilhosa!", com um "passou rápido, né?", no domingo. Às vezes rola uma visualização e penso "já já respondo" e a reocupação de atenção faz com que o vácuo se estabeleça.

"Deeeixa! Talvez seja melhor... às vezes erro o tom" (diretamente)
"ouva" essa e sorte e ame ana muller 

Aqui é onde eu assumo minha responsabilidade geminiana e quando me afasto por opção (além de ser onde usarei muito "às vezes" e suas variações). Mesmo quando não comunico. Mesmo ainda amando, gostando, considerando, saudadando (neologismo?),  e mais ene dê ós capazes de formar as piores e mais grudentas músicas da face da terra.

Às vezes, poucas, mas bem relevantes, penso ser o melhor que meu contato seja cada vez menor. Cada caso, caso único. Na imensa maioria dessas poucas vezes, eu simplesmente fiz uma avaliação da relação, daquilo que provoco e dos resultados que a pessoa, que eu posso até gostar demais, pode estar alcançando sem mim.

Algumas vezes, as entrelinhas falam por si. Ser nerd tem lá suas implicâncias positivas, mas as negativas direcionam muito ao envolvimento com a solidão e o afastamento natural, principalmente quando percebo algo - que a pessoa não está preparada para me pedir (às vezes por não querer me magoar, justamente pelo amor que sente). Entendendo que uso a palavra amor em todas as suas variantes (e não o amor de "ais, uis e ãos").

Faço, geralmente pequenas perguntas testes. A partir delas, analisada pelo contexto daquela batelada de títulos que levam o nome do meu melhor amigo (Fróidji) e vivências minhas, além de outras considerações como uma releitura da minha posição como homem nessa sociedade ultracarente e cheia de machismo estrutural (que forma minininhus mais carentes ainda) e vários nhénhens que tornam os textos do tamanho desse mais chatos, me afasto. Confesso... Não é lá muito justo. É uma decisão unilateral.

Eu me afasto, mas mantenho quem amo comigo. Torço por sua felicidade. Acompanho, transformo-a em personagem dos meus 55th quando algo foda acontece em sua vida, vibro com suas vitórias e me compadeço de suas angústias. Permaneço lá, pronto para dar o braço quando precisar de mim.

O afastamento é pra que a pessoa viva, pois talvez (eu penso), minha presença atrase os planos e evoluções particulares. Não é por raiva ou ressentimento... Ah! Estou contando as pessoas que amo, hein? Tem gente que bloqueio da minha existência porque não suporto meishmo! hahaha (I'm bad to the bone!)

Bônus: aquele 1% (incontrolável)
é vagabundo, mesmo 

Às vezes estou tão mal comigo mesmo e com o mundo... Com as minhas realizações e fracassos, que acabo me trancando dentro de mim. Fui diagnosticado com ansiedade e pré-depressão (e nunca antes tinha visto dois prefixos pra pressão na vida... É difícil de falar). Mas, lí em algum lugar que isso é meio comum no Brasil. É o segundo país do mundo com mais pessoas ansiosas, com síndrome do pânico e com tendências a depressão. Não sou especial ou coitadinho por isso. E, não à tôa, esse motivo terá o menor número de linhas.


Considerêishâns
isso mermo!

Poizé, mêêu! O afastamento nem sempre é sinônimo de motivação viajada. Criatividade, ocupação, São Paulo, distração... pode ser uma vez ou outra um tantim de resignação, que provoca aquele ditado... "quem muito se ausenta deixa de fazer falta" (que aliás, a psicologia explica perfeitamente o porquê, mas papo chato noooooon), que na verdade pode ser um período de extrema impossibilidade de dar atenção (seja por um trabalho ou mesmo... por conta de algo maior e mais profundo).

Abraçar a incompreensão é sinal de empatia... Vai que o afastamento daquele(a) que te ama tanto tenha a ver com empatia, também? No final, ser humano é mais que presença. Sabe que além de mencionar o estar, a palavra presente indica tempo verbal, existência e reconhecimento com um regalo. Às vezes a distância é um mimo ofertado.

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