quinta-feira, 11 de maio de 2017

Suicida Sobrevivente - (55th's Sessions)

"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, 
e quando existe a morte, não existimos mais" (SAMOS, Epicuro de)


Sobrevivendo



Mais uma vez acordo e não quero abrir os olhos. Sinto dores. É engraçado como não consigo reconhecer exatamente a área específica das partes do meu corpo a doer. Não sei exatamente que ponto da perna... Talvez a parte de trás do joelho que também não sei o nome. Não sei se a nuca ou o pescoço... Ou mesmo as costas. 

Ah! Foda-se! Meu sexo está dando bom dia ao dia, sem faltar. Isso me anima. A ereção matinal já me faz abrir um esgar de sorriso e ao mesmo tempo os olhos. Deitado de bruços, agarrando o travesseiro, meu quinto membro pressiona o colchão e, no auge de minha infantilidade, acho isso divertido; ao mesmo tempo viril.

As dores de viver somem. Os olhos fecham com prazer. O sorriso permanece e o pênis pulsa. Lá no "pé da barriga" a bexiga reclama "me ajuda aê, cara!". O esgar vira um pequeno ruído. Era um riso. A felicidade, como poucos imaginam, pode às vezes, aparecer entre bocejos, espreguiçamentos e ereções matinais.

Mas, o cérebro clama sua cota. Todos os pensamentos se voltam para a urgência na existência. E o céu vira inferno em questão de segundos. É manhã de terça-feira, as dores no corpo voltam, meu pau desfalece e vem o desejo inquietante de simplesmente morrer.

É. Eu sei. Estranho e, parece meio covarde. Mas, acordo querendo não ter acordado, às vezes. É uma cadência: imagino uma bala perdida esfacelando o cérebro; em tesmpestades, que alívio seria se um raio arrebatasse a minha alma para o céu; em minhas viagens de avião, quem dera um míssil o explodisse em pleno ar; em sonhos lindos e tranquilos, quem dera o coração batesse em outro plano de existência.

E aí, fim. Ponto. C'est fini.


Não me entenda mal. Se esse pensamento de "acabe-me" me torna um suicida, considero-me, por vezes, um exemplar passivo. É a vontade do fim que me pega, não a necessidade de matar a mim. Amo viver. 

A vida é deliciosa quando lhe convém. A vida é uma megera de tempos em tempos. É um espeto fincado na ferida que ainda não sarou e continuará lá, pressionando, girando e gritando "eu sou a vida, também!".

Suicida Sobrevivente
Créditos: Pinterest| Christian Hopkins

Eu sou a falta. Eu sou o desespero. Eu sou a carência.
Eu sou o choro reprimido. Eu sou a expectativa. Eu sou a tristeza.
Eu sou a fome. Eu sou a dificuldade. Eu sou a tragédia.
Eu sou a distância. Eu sou a traição. Eu sou a incapacidade.
Eu sou a vergonha. Eu sou a criança renegada. Eu sou o idoso abandonado.


A acidez no interior das narinas prevê a emoção de estar vivo. Os olhos, fechados novamente se inundam, mas as lágrimas não vertem. São o orgulho não querendo beijar a atmosfera mordaz, responsável pelo sofrimento do meu espírito.

Vagarosamente, com o rosto enterrado no travesseiro, procura desligar as funções motoras e a respiração "descansa". O silêncio é sepucral e apenas o retumbar do coração repercute pela parte interna dos ouvidos.

Há vida percorrendo as veias. E a cada batimento cardíaco que gradualmente acelera, sentindo falta do ar que não invade a corrente sanguínea, enlaces de memórias se fazem presente.

A vida discorrendo centelhas de alegria em meio ao caos de todo e qualquer vazio persistente. Cada glóbulo vermelho leva ao cérebro, lembranças recheadas de felicidade pulsante, garantindo a fé do que virá pela frente.

Os pulmões fervilham, prometendo uma erupção; o corpo esquenta e o coração... Esse já não mais se envaidece em cadência inglesa, pois já é bateria de escola e samba.

Por trás dos olhos, que se escondem atrás das pálpebras fechadas, Deus é o sorriso de satisfação de quem amo e me ama - seja Deus qualquer tudo ou qualquer coisa. Seja Deusa, seja força, seja ideia ou, apenas seja -.

Torno a respirar. A ebulição de trinta segundos sendo controlada a cada inspirar/expirar rápido e profundo. Percebo o teto me fitando e me dou conta que meu corpo fez um movimento automático para o despertar.

Despertar...

Looking up from underneath, Fractured moonlight on the sea Reflections still look the same to me, As before I went under


O despertador do smartphone ressoa. A melodia envolve cada átomo do meu quarto. Ela parece a vontade de seguir em frente, quase provinda de uma explosão orgânica há segundos atrás (♪ never let me go, never let me go ♫). E quase como uma explicação gritando em cada costura do meu ser: 

♪ And the arms of the ocean are carrying me ♫ 

A Florence me dirá que "Dog Days Are Over" em breve like a train on a track e um banho é tudo que preciso agora.

Pronto pra mais um dia. So I better run.




by J, Survival Suicidal

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