A arte da INCOMPREENSÃO...
É
difícil hoje em dia se fazer entender. As coisas acontecem de maneira muita
veloz e as pessoas tendem a nem se ouvir direito. Sabe aquela agonia de ao estar
lendo um livro – ou qualquer coisa do tipo – e de repente da uma vontade arretada¹ de pular algumas linhas e
chegar logo à conclusão? Então...!
Hoje
em dia isso é feito com tudo. Livros, filmes, jornais, seriados, revistas e
principalmente no diálogo. O pior de tudo é ler/assistir/ouvir
apenas um pedacinho do que se procura conhecimento e ter uma conclusão pré-formada
sobre o assunto em questão. É o chamado jarro
cheio. Não entra mais nada ali; já está cheio até a boca.
Tudo que se
tenta por a mais, transborda. Nada (ou quase nada) é absorvido.
Acho
que é pela época em que vivemos mesmo. Tudo muito virtualizado e na
velocidade de um clique. As pessoas aprendem a não confiar uma nas outras porque
são todas autodidatas. Não precisam uma das outras... Ou melhor, precisam
sim! Mas de uma forma tão inumana e fantasiosa que não conseguem perceber
mais o óbvio a sua frente: todos nós somos frágeis.
Hoje é
quase impossível você ver/ouvir alguém falar de alma aberta: “Errei.
Fui fraco/inexperiente/egoísta.”. Não sem a pitada de orgulho indelével.
Mais
difícil ainda é o reconhecimento das dificuldades alheias - afinal todos falham...
Hoje a maior parte das pessoas têm a percepção convicta de que a humanidade inteira é um bando de mentirosos, traiçoeiros,
mesquinhos, oportunistas. "Os outros não têm problemas; fazem charme".
A
única verdade que conta é a que está na mente.
Aquela que criamos e acreditamos - a preconceituada.
Não
a que nos é contada – mesmo que venha de uma rara pessoa em quem confiamos.
Fácil
é você cair numa cilada CSI² de
alguém.
Fácil é você ouvir alguém dizer “Você
me entendeu errado”, “Você me ouviu
dizer isso?”, “Essa foi a impressão
que você teve”.
As pessoas não se expõem mais. Não engrenam a verdade 100%
e querem que seus interlocutores adivinhem suas intenções só para terem o
prazer de dizer “você está errado(a)” ou
“você não me conhece”.
Psicologia a profissão do
futuro. Ouvi
isso há pouco tempo... E acabei concordando.
As pessoas não confiam em ninguém.
Confiam em ajuda profissional.
E isso
é hilário... Porque quanto menos se deixam aproximar uma das outras
mais elas precisarão de Psicanálise.
Ou seja: criarão seus próprios monstros viciosos – pagos e caros!
E quando Paul Sartre
disse “O inferno são os outros” não
posso tirar o seu quê de razão, mas
posso inferir que o inferno começa dentro de nós.
Transportamos para os outros
nossos medos, angústias, frustrações, decepções.
Tornamos físico o nosso mal
interior... Afinal, o mal e o bem começam dentro de nós – o conceito de bem e
mal é inerente à convivência humana (dita civilizada).
Somos
um bando de sabichões! Cheios de nós
mesmos. O ser humano tem uma tendência à onisciência atribuída. O parecer saber demais de tudo para que os
outros reconheçam esse dom em você.
Mas o problema é que todos nós padecemos do
mesmo defeito. E ao mesmo tempo temos uma tendência irrefreável ao egotismo. Ou
seja, não passamos de reinos em conflito. Lutamos uns contra os outros querendo
provar que eles não são bons entendedores - e não nos fazendo entender.
Procuramos
a vida inteira por alguém que nos compreenda, mas fechamos as portas para todos
na expectativa de mostrar o quanto somos exclusivistas, capazes, individuais e
poderosos. Exibimos como brigamos com quem pisa nos nossos calos e como colocamos as
pessoas nos seus devidos lugares; como somos ótimos detetives e juízes de caráter... Como somos amáveis e amantes e, ao mesmo tempo, vítimas de aproveitadores
que não sabem o que é dar valor a alguém como nós.
Na
verdade... Somos amadores. Somos amadores em viver.
Na
grande e insuperável (e porque não insuportável) maioria das vezes somos
crianças e queremos nos afirmar num mundo que achamos ser nosso.
Mas
não é.
O
mundo estará lá quando não existirmos mais... O mundo é só um cenário.
E somos antagonistas de nós mesmos.
Aderimos
a uma arte milenar, mas que permanece totalmente contemporânea; pós-moderna: A
arte da Incompreensão.
Somos
um bando de animais que se fingem racionais, mas não conseguem definir o que é
sentir um ao outro de verdade.
Bem
vindo ao “Ãnh?” nosso de cada dia.
Sinta-se incompreendido, porque você não passa de um incompreensivo.
1 Arretado – Expressão regional. Gíria para "muito grande".
2 CSI – Seriado Norte Americano. Metáfora de Complexidade.
O cenario que vivemos é assim, pessoas não dizem diretamente o que querem. Não sei se é medo ou um costume adaptado pela sociedade moderna de querer ser ambiguo. Mais o certo é uma conversa sempre se torna interssante quando não vamos direto ao ponto, sabe aquilo de prender a atenção? rsrs
ResponderExcluirEu acho que não fui muito claro com isso, fui?
Você pode estar me entendendo errado rsrsrs