[Diálogo]
2ª PESSOA...
Sexta
a feira à noite você correu, hein?
Algumas
pessoas perguntaram: - “E aí... Vamo tomar uma?”, obstinado pelo dia seguinte
você simplesmente disse não. Deu o maior orgulho ver você voltando pra casa
voando. Pronto pra dormir se possível (já que fazia uma semana que você não
dormia [tudo bem... três horas em uma semana pode ser considerado dormir
em algum país, mas aqui no Brasil não!]).
Pena
que a ansiedade foi fodástica. Maior que você! Até algumas horas da manhã, né?
Eu vi. Mas você conseguiu dar umas boas três horas (a mais) de sono pro seu
corpo.
Acordou
de um pulo. O celular ainda nem havia despertado. Engraçado ouvir você dizer “milagre!”
de si mesmo! Aliás, gosto disso em você. Dessa sua capacidade de reconhecer
seus defeitos e qualidades e lidar bem com eles/elas. Te humaniza muito e você
precisa disso como ninguém.
Mais irônico
ainda foi ver você organizando suas coisas.
Quero dizer... Você não é bem fã de serviços domésticos, mas pra passar o tempo começou a arrumar seu quarto e varrer a casa, forrar a cama, dobrar lençóis. Não é algo tipicamente nerd-pré-viagem, porém foi legal de acompanhar seu entusiasmo.
Quero dizer... Você não é bem fã de serviços domésticos, mas pra passar o tempo começou a arrumar seu quarto e varrer a casa, forrar a cama, dobrar lençóis. Não é algo tipicamente nerd-pré-viagem, porém foi legal de acompanhar seu entusiasmo.
Fosse sua mala, no entanto ela já
tinha sido feita por você na noite assim que você chegou... Aquela roupa e a
blusinha do Sport Club do Recife (#girls) que você deixou de lado pra colocar depois acabou que me passando a seguinte idéia: “ele vai esquecer”.
Sair
de casa às 09h30 pra um compromisso às 12h40 foi algo a mais que me deixou
desnorteado. Você está cada vez mais se responsabilizando!!!
Morar
longe do centro é um problema, mesmo num sábado, né? Você fez bem em pegar um
taxi na metade do caminho.
Você
deveria ter visto seu olhar ao se aproximar do aeroporto e ver um avião
decolando. Vi você mandando mensagem pra ela dizendo que sentiu vertigem. [rs]
Chegar
com uma hora de antecedência deixaria você insuportavelmente agitado em
qualquer outro lugar, mas estava tão tranqüilo lá que pareceu que sempre fez
isso, né?
Cara...! Quando você tem um medo à frente você o enfrenta como um
guerreiro digno. Dá pra sentir que o medo te circula... Medo da impotência diante
daqueles 30 segundinhos que você tivesse certeza que iria morrer e nada poderia
fazer mexe com você. Medo de morrer eu sei que não tens, mas... Estar impotente
numa situação mata você. “Saber e não fazer nada por não poder” te arrasa.
Sempre foi assim e os aviões te dão medo.
O
engraçado é que você é louco pra voar. Sentir o vento no rosto, o coração consumir
seu corpo de adrenalina... Uma contradição que é descontradita quando analisamos o que impulsiona seu receio de
avião.
Se deu
conta que esqueceu suas roupas e os presentes, não é? Andou o aeroporto todo
procurando algo pra levar... Não estavam vendendo blusas ou presentes inspiradores...
Seu coração não te indicou nada... Não leva! A palheta estava onde deveria
estar. Ela carrega muita emoção e inspiração.
Ir
para o embarque foi a premissa da paranóia, né? Mas você ficou tão sereno... O
perigo se aproximando e você focado nele. Chegou a ser belo de ver... Seu
coração não estava nada calmo. Ele já estava em São Paulo desde sempre.
Um
turista. Tirando fotos numa câmera 2.0mp de um Nokia C3 – emprestado – na janela
de um avião. Assento 25F escolhido deliberadamente por você para que ficasse na
janela e aprendesse mais sobre seu temor.
Ele
começou a taxiar... E preparou-se para a decolagem. Visão privilegiada das
asas, hein? “Quase orgânica” você pensou. Elas se moviam como os “dedos” de uma
ave. As turbinas finalmente fizeram aquele som que você só ouvia de casa,
quando os aviões passavam por cima – e você já os imaginava caindo na sua
cabeça –.
A
velocidade alcançada é incrível! Vejo seus olhos infantis impressionados
olhando pela janela. De repente o chão inexiste! Foi como se todo o ar empurrasse
todos os órgãos para os pés, esmagando-os, como se houvessem aberto um buraco
embaixo do seu assento e você fosse abduzido pelo solo enquanto o avião ganhava
os céus. Mas logo, o medo passou... E você estava como uma criança: deslumbrado!
Como
se você tivesse deixado a realidade lá de baixo e estivesse vivendo no sonho lá
em cima... “As nuvens parecem ‘mais’ de mentira daqui” pensou inocente, né? Eu vi...
Tava lá.
O azul
tão infinito, calmo, lento... Tão seu. As nuvens plácidas... Um mar acima do
mar.
Aterrizar
pela primeira vez foi aflitivo, mas tranqüilizou rápido.
Mas
sobrevoar o destino final antes de finalmente descer no solo... Foi uma mistura
de ontems e hojes impossível de descrever.
A cidade que nunca dorme refratava a
cor prateada de seus prédios nos seus olhos. As vias e variáveis viadutos que
se entrelaçavam como novelos já o fez comer com o olhar toda a cidade pelo
alto.
Mas pra você a cidade só tinha um nome e era feminino, de origem francesa.
Só tinha um olhar e um sorriso... Quando o trem de pouso tocou a pista, seus
lábios sentiam o bater do seu coração.
“Oi”, “Oi,
onde cê ta?”, “Cheguei!”, “Caraca, velho! Que dahora!”.
Sentir-se
perdido seria possível antes desse diálogo.
Vi como você soube se situar.
Incrível
como as pessoas de bom coração atraem também o bem. Era de ficar impressionado
com toda a boa recepção, hospitalidade e preocupação, mesmo. Descreviam os
paulistanos como insensíveis e nunca foram.
Vias larguíssimas,
né? Estranhou o trânsito fluindo, né? Sábado 17h30... Queria o quê?
Estar
no lugar onde você já esteve diversas vezes virtualmente é um choque a
principio, mas você venceu o vôo... Isso é coisa pouca.
Quando
o telefone tocou pela aquela enésima vez que você ouviu: “Estou na Rua Tapajós”
eu percebi que as coisas ficaram numa velocidade diferente. Sair voando e com a
certeza de onde ir, como e com quem se encontrar num lugar totalmente
desconhecido é algo muito diverso.
Dobrar a rua no sábado à noite e reconhecer a silhueta de longe... Posso arriscar já que você arriscou tanto: “você enxergou com os olhos do amor, cara. Só consigo responder assim!”
Dobrar a rua no sábado à noite e reconhecer a silhueta de longe... Posso arriscar já que você arriscou tanto: “você enxergou com os olhos do amor, cara. Só consigo responder assim!”
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