terça-feira, 24 de abril de 2012

Vinte e Poucos Anos (XXVII) - A 1ª Ida 1/3 [Diálogo]

[Diálogo]
PESSOA...

Sexta a feira à noite você correu, hein?
Algumas pessoas perguntaram: - “E aí... Vamo tomar uma?”, obstinado pelo dia seguinte você simplesmente disse não. Deu o maior orgulho ver você voltando pra casa voando. Pronto pra dormir se possível (já que fazia uma semana que você não dormia [tudo bem... três horas em uma semana pode ser considerado dormir em algum país, mas aqui no Brasil não!]).

Pena que a ansiedade foi fodástica. Maior que você! Até algumas horas da manhã, né? Eu vi. Mas você conseguiu dar umas boas três horas (a mais) de sono pro seu corpo.
Acordou de um pulo. O celular ainda nem havia despertado. Engraçado ouvir você dizer “milagre!” de si mesmo! Aliás, gosto disso em você. Dessa sua capacidade de reconhecer seus defeitos e qualidades e lidar bem com eles/elas. Te humaniza muito e você precisa disso como ninguém.
Mais irônico ainda foi ver você organizando suas coisas. 


Quero dizer... Você não é bem fã de serviços domésticos, mas pra passar o tempo começou a arrumar seu quarto e varrer a casa, forrar a cama, dobrar lençóis. Não é algo tipicamente nerd-pré-viagem, porém foi legal de acompanhar seu entusiasmo.
 Fosse sua mala, no entanto ela já tinha sido feita por você na noite assim que você chegou... Aquela roupa e a blusinha do Sport Club do Recife (#girls) que você deixou de lado pra colocar depois acabou que me passando a seguinte idéia: “ele vai esquecer”.

Sair de casa às 09h30 pra um compromisso às 12h40 foi algo a mais que me deixou desnorteado. Você está cada vez mais se responsabilizando!!!
Morar longe do centro é um problema, mesmo num sábado, né? Você fez bem em pegar um taxi na metade do caminho.
Você deveria ter visto seu olhar ao se aproximar do aeroporto e ver um avião decolando. Vi você mandando mensagem pra ela dizendo que sentiu vertigem. [rs]
Chegar com uma hora de antecedência deixaria você insuportavelmente agitado em qualquer outro lugar, mas estava tão tranqüilo lá que pareceu que sempre fez isso, né? 

Cara...! Quando você tem um medo à frente você o enfrenta como um guerreiro digno. Dá pra sentir que o medo te circula... Medo da impotência diante daqueles 30 segundinhos que você tivesse certeza que iria morrer e nada poderia fazer mexe com você. Medo de morrer eu sei que não tens, mas... Estar impotente numa situação mata você. “Saber e não fazer nada por não poder” te arrasa. Sempre foi assim e os aviões te dão medo.
O engraçado é que você é louco pra voar. Sentir o vento no rosto, o coração consumir seu corpo de adrenalina... Uma contradição que é descontradita quando analisamos o que impulsiona seu receio de avião.

Se deu conta que esqueceu suas roupas e os presentes, não é? Andou o aeroporto todo procurando algo pra levar... Não estavam vendendo blusas ou presentes inspiradores... Seu coração não te indicou nada... Não leva! A palheta estava onde deveria estar. Ela carrega muita emoção e inspiração.

Ir para o embarque foi a premissa da paranóia, né? Mas você ficou tão sereno... O perigo se aproximando e você focado nele. Chegou a ser belo de ver... Seu coração não estava nada calmo. Ele já estava em São Paulo desde sempre.

Um turista. Tirando fotos numa câmera 2.0mp de um Nokia C3 – emprestado – na janela de um avião. Assento 25F escolhido deliberadamente por você para que ficasse na janela e aprendesse mais sobre seu temor.

Ele começou a taxiar... E preparou-se para a decolagem. Visão privilegiada das asas, hein? “Quase orgânica” você pensou. Elas se moviam como os “dedos” de uma ave. As turbinas finalmente fizeram aquele som que você só ouvia de casa, quando os aviões passavam por cima – e você já os imaginava caindo na sua cabeça –.

A velocidade alcançada é incrível! Vejo seus olhos infantis impressionados olhando pela janela. De repente o chão inexiste! Foi como se todo o ar empurrasse todos os órgãos para os pés, esmagando-os, como se houvessem aberto um buraco embaixo do seu assento e você fosse abduzido pelo solo enquanto o avião ganhava os céus. Mas logo, o medo passou... E você estava como uma criança: deslumbrado!
Como se você tivesse deixado a realidade lá de baixo e estivesse vivendo no sonho lá em cima... “As nuvens parecem ‘mais’ de mentira daqui” pensou inocente, né? Eu vi... Tava lá.

O azul tão infinito, calmo, lento... Tão seu. As nuvens plácidas... Um mar acima do mar.
Aterrizar pela primeira vez foi aflitivo, mas tranqüilizou rápido.
Mas sobrevoar o destino final antes de finalmente descer no solo... Foi uma mistura de ontems e hojes impossível de descrever.
A cidade que nunca dorme refratava a cor prateada de seus prédios nos seus olhos. As vias e variáveis viadutos que se entrelaçavam como novelos já o fez comer com o olhar toda a cidade pelo alto. 
Mas pra você a cidade só tinha um nome e era feminino, de origem francesa. Só tinha um olhar e um sorriso... Quando o trem de pouso tocou a pista, seus lábios sentiam o bater do seu coração.

“Oi”, “Oi, onde cê ta?”, “Cheguei!”, “Caraca, velho! Que dahora!”.
Sentir-se perdido seria possível antes desse diálogo. 

Vi como você soube se situar.
Incrível como as pessoas de bom coração atraem também o bem. Era de ficar impressionado com toda a boa recepção, hospitalidade e preocupação, mesmo. Descreviam os paulistanos como insensíveis e nunca foram.

Vias larguíssimas, né? Estranhou o trânsito fluindo, né? Sábado 17h30... Queria o quê?
Estar no lugar onde você já esteve diversas vezes virtualmente é um choque a principio, mas você venceu o vôo... Isso é coisa pouca.

Quando o telefone tocou pela aquela enésima vez que você ouviu: “Estou na Rua Tapajós” eu percebi que as coisas ficaram numa velocidade diferente. Sair voando e com a certeza de onde ir, como e com quem se encontrar num lugar totalmente desconhecido é algo muito diverso.

Dobrar a rua no sábado à noite e reconhecer a silhueta de longe... Posso arriscar já que você arriscou tanto: “você enxergou com os olhos do amor, cara. Só consigo responder assim!”


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