terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Era Um Garoto (VIII) - Pelos Ares


Empatia, Simpatia e Amorês


"Empatia importa. Dois ouvidos e uma boca."

O vôo 1452 da GOL saindo do Rio de Janeiro para o Recife com a partida marcada às 15:50 recebeu seu último e arfante passageiro de forma cortês e simpática. "Não quer ir embora do Rio, não é garoto?" brincou a sorridente comissária de bordo. Os olhos dela brilhavam. A cada passo até seu assento, o 28F (lá depois da asa direita e próximo ao fundo da aeronave — leu em algum lugar que era mais seguro em caso de acidente), era cumprimentado pelos seus companheiros de viagem e, vejam só!, pelo primeiro nome. Riu-se primeiro envergonhadamente e logo depois achou graça de verdade. "Devem ter falado meu nome mil vezes." pensou, divertindo-se.

Sentar à janela revelava sua leve claustrofobia. Seu negócio, se pudesse, era voar de verdade e não estar aprisionado à mercê de um quarto, em forma de tubo gigante. Mas ainda assim, amava aquilo.

As turbinas ressoaram e, após todos os check-lists, lá estava ele vendo a asa direita formar o côncavo, e o aeroplano rugir pela pista de decolagem até ganhar os ares, enchendo de vida as veias daquele apaixonado. 

No entanto, o coração domou-lhe. Ver o solo se afastando, sentir o frio no estômago e ter sido empático a tão pouco inundou seus olhos de saudades. Empatia não é algo para todos, coisa perigosa... Que só deve ser praticada pelos mais corajosos.


Acessar as emoções de outrora e ver a Cidade Maravilhosa transformar-se na visão de satélite do GPS em seu Nokia 530 fizeram-no lembrar do primeiro vôo ao Rio de Janeiro e da fascinação alheia. O sorriso nervoso e incontido, o medo infantil. Aquilo era belo demais. A partícula de felicidade eterna. Seus olhos não marejaram — oceanaram.

— "Já coum saudáhdês, meu filho?" — a senhora ao lado, que o tinha recebido com a torcida para não perder a viagem, questionava com uma materna preocupação acompanhado de um carregado sotaque gringo.

"Ainda." Deixou escapar a correção ao advérbio dando a correta referência do que sentia. A simpatia tomou conta da colega do grupo 28 D/E/F e ela, na tentativa do conforto, tentou iluminar a escuridão dos castanhos dos olhos dele:

— "Olha pelo lahdo boum: ao menas você não perder o vôo."

Esse é o lado dos simpáticos. Não é o seu problema, o que importa é o bem estar o mais rápido possível.

Os famosos "você poderia estar pior", "alguém em algum lugar sofre mais do que você", "não pense assim, tudo vai melhorar" e muitos outros... Não. Não indicam que os simpáticos não gostam realmente de você. Eles querem que o incômodo pare — o seu e o deles (o seu incômodo causa o deles) — e isso sim, é um meio de preocupação. 

Uma bad mexe com a ordem natural e aos simpáticos tudo tem que seguir bem, forever

A vida não é regrada, certinha, precisa, controlada, retilínea uniforme. Haverão as super good vibes e, também, as super bad vibes.

O coração dele relembrou: coincidentemente o primeiro vôo da sua vida, havia acontecido num dia quatorze (no mês de Abril ao invés de Janeiro).

O riso, agora emocionado, veio do acesso à lembrança de uma outra primeira vez. 

Rememorar, segundo a ciência, traz as mesmas sensações sentidas no evento. É verdade.

Soube exatamente como isso aconteceu. A empatia de alguns dias atrás. Entender o sofrimento de uma amiga requereu o acesso aos sentimentos semelhantes vividos por ele. 

Ser empático não é ficar louco que as coisas voltem ao normal. Nem destrinchar cada fio de esperança de que tudo está bem e poderia estar pior, portanto ficará melhor. 

O empático é humano com o outro, se doa, entende a dor alheia como única e para fazê-lo, deve compartilhar de si. Sabendo que cada um tem o tempo próprio para suportar sua perda, mas disposto e ao lado compreendendo quem sofre. 

Alivia o peso porque é divido.

No entanto, a empatia é uma faca de dois gumes. A resiliência do empático deve equiparar-se à sua coragem.

Ele possuía a resiliência de um geminiano com ascendente em sagitário.


— "Sabe, senhora... Já viu saudades deixar alguém mais feliz do que triste?" — questionou depois de trinta minutos, orgulhoso de sua pronta recuperação.


— "Só dê amorês dê verdade, garoto. Só dê amorês dê verdade." — asseverou-lhe a interlocutora norte-americana, guardando o iPad para iniciar uma longa e calorosa conversa.

by J, 55th Savior

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