Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos
fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de
todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este.
(CAMUS, Albert)
Esperança
Era noite. Caminhávamos discorrendo filosofia pós-adolescente e coisas sobre filmes, jogos, RPG, mulheres e coisas assim. À época, ainda formava meu conceito sobre a existência do ser e sua relação com o mundo, mas eu era narrador e aspirante a escritor e isso significa que já havia configurado diversos universos em minha mente. Todos eles, lógico, baseados no existente. E aos poucos fui percebendo que esperança é uma dicotomia em si.
No caminho, enquanto divagávamos, encontramos um filhote que hoje a memória falha em relação à espécie (se gato ou cachorro). Meu bom amigo, um apaixonado pelas coisas da natureza, sempre avesso aos sofrimentos que as criaturas que não têm nosso raciocínio para se defender, logo se viu tocado.
Estava subnutrido, cheio de pequenas feridinhas, com os grandes e enérgicos olhos prescrutando qualquer movimento. Apesar da raça não me vir à mente com clareza, a expressão e as condições são inesquecíveis. Doía no peito de ver, sim.
Então, quase que instantaneamente, cheio de ternura e pena, o meu brother se dirigiu com afeto para acarinhar o pequeno animal. Eram sinceras as suas intenções. Eram as melhores possíveis. Ele estava realmente pesaroso por um filhote estar naquelas condições e éramos sempre impulsivos, meio inconsequentes, as emoções falavam mais alto sempre.
Mas, de repente, uma iluminação me fez gritar:
"NÃO!"
De um susto compartilhado, o filhote se escondeu e meu amigo de um salto olhou em minha direção. Ainda ouço o eco da minha voz deslizando pelos recônditos daquela avenida.
— "Por que não, cara?", perguntou atônito, "Tadinho dele, só ia fazer um carinho!", explicou.
De pronto, respondi "você pretende levá-lo para casa?" e a resposta foi o não que eu havia imaginado. E continuei:
— "Vai dar comida? Tratar as feridas? Cuidar?", insisti e o que se seguiu, foi a prevista negativa.
E, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, esclareci indagando:
— "Então, por que dar esperança para ele?", percebendo a cara de "como assim?" eu continuei: "A pior coisa que você pode fazer agora é dar esperança e depois, abandoná-lo!"
Seria maldade.
Acarinhá-lo, aquecer seu coração de esperança e depois partir.
Ele (o filhote) iria, desesperado, seguir o meu amigo, pedir mais atenção, pedir carinho, pedir comida, pedir cuidado e ele (meu amigo)-(ou mesmo eu), não tínhamos a possibilidade (e nem a intenção) de promover tudo o que aquele filhotinho precisava.
Dar esperança e abandonar é até pior que ignorar: é crueldade.
Lógico, que a minha epifania não veio do nada.
Veio de todas as vezes em que adultos prometeram coisas que nunca iriam cumprir.
Dos presentes que nunca iriam dar e do costume que temos de tentarmos pseudoagradar, prometendo e esperançando simplesmente para sairmos mais compreensivos e afetuosos de uma situação.
Veio da criança que aos sete anos recebeu a promessa que aos onze sentaria no banco do carona e que aos treze seria ensinado a dirigir pelo tio. A euforia que aquela promessa causou e nunca foi honrada.
Veio do pré-adolescente que recebeu a esperança de cuidado, de viagens, de presentes, presença, de consideração, de reconhecimento... E todas as promessas vãs. Todo o vazio que uma esperança pode trazer. O quanto ela trava. Acorrenta. Causa ansiedade e, posteriormente, tristeza e abandono quando o prometido nunca é cumprido.
A esperança, diferente da fé, pode ser a ferramenta que ajuda a cortar o fruto que te alimenta, quanto a arma que te faz sangrar, vagarosa e gradativamente, até esvaziar por completo. Até o testamento bíblico, fala que sofre quem confia nas promessas do homem (Jeremias 17;05).
Hoje, lembro de mim naquela fase ainda adolescente e agiria de forma diferente. Provavelmente levaria o filhote para trata-lo e depois para um centro de doação de animais. Sei que meu amigo o faria com certeza, também! Tanto ele quanto eu acreditamos mais nas ações que nas palavras.
Dar esperança, é antes de esperança, dar.
E, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, esclareci indagando:
— "Então, por que dar esperança para ele?", percebendo a cara de "como assim?" eu continuei: "A pior coisa que você pode fazer agora é dar esperança e depois, abandoná-lo!"
Seria maldade.
Acarinhá-lo, aquecer seu coração de esperança e depois partir.
Ele (o filhote) iria, desesperado, seguir o meu amigo, pedir mais atenção, pedir carinho, pedir comida, pedir cuidado e ele (meu amigo)-(ou mesmo eu), não tínhamos a possibilidade (e nem a intenção) de promover tudo o que aquele filhotinho precisava.
Dar esperança e abandonar é até pior que ignorar: é crueldade.
Lógico, que a minha epifania não veio do nada.
Veio de todas as vezes em que adultos prometeram coisas que nunca iriam cumprir.
Dos presentes que nunca iriam dar e do costume que temos de tentarmos pseudoagradar, prometendo e esperançando simplesmente para sairmos mais compreensivos e afetuosos de uma situação.
Veio da criança que aos sete anos recebeu a promessa que aos onze sentaria no banco do carona e que aos treze seria ensinado a dirigir pelo tio. A euforia que aquela promessa causou e nunca foi honrada.
Veio do pré-adolescente que recebeu a esperança de cuidado, de viagens, de presentes, presença, de consideração, de reconhecimento... E todas as promessas vãs. Todo o vazio que uma esperança pode trazer. O quanto ela trava. Acorrenta. Causa ansiedade e, posteriormente, tristeza e abandono quando o prometido nunca é cumprido.
A esperança, diferente da fé, pode ser a ferramenta que ajuda a cortar o fruto que te alimenta, quanto a arma que te faz sangrar, vagarosa e gradativamente, até esvaziar por completo. Até o testamento bíblico, fala que sofre quem confia nas promessas do homem (Jeremias 17;05).
Hoje, lembro de mim naquela fase ainda adolescente e agiria de forma diferente. Provavelmente levaria o filhote para trata-lo e depois para um centro de doação de animais. Sei que meu amigo o faria com certeza, também! Tanto ele quanto eu acreditamos mais nas ações que nas palavras.
Dar esperança, é antes de esperança, dar.
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