O Quarto 222
Não queria ser motel. Não o era!
Apesar das paredes do quarto de tom verde nada frias serem, não sentia. Mas sentiam aqueles que adentravam seu interior; para sentirem outros interiores.
Apesar de testemunhar primeiros beijos e promíscuos gritos, não queria ser motel.
Não o era.
Também presenciou sussurros fugidios, fogo liquefeito em fluidos. E corpos em tremores, expressões de prazeres e dores. Suores. Seu espelho lateral (e não no teto) refletiu amor, sofrimento, lamento.
Apesar de suas toalhas levarem a identidade ainda não renovada, não queria ser motel.
Não o era.
A tela não servia pornografia; um pouco de I don't wanna miss a thing durante a madrugada que, mesmo sendo foda, era praticamente o inverso. Era outro universo.
Apesar de dias de constante sexo, não queria ser motel.
Não o era.
Lençóis contorcidos entre dedos suplicantes, almofadas derrubadas ao chão complacente, ar condicionado que tentava abaixar os "me fode!" insistentes. Chuveiro que aliviava as feridas abertas de arranhões recentes e ao mesmo tempo lavava os amantes em lascívia urgente.
Apesar da portinhola de entrada ao desjejum, não queria ser motel.
Não o era.
Lugar de risos e sabores. De dias e não horas. De sonhos e temores. De amores, mesmo em fodas.
Não queria ser motel. Não o era?
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