Für Elise
Pupilas sugam negrume, anseiam luz, quarto escuro...
Desejam cores, pulso lá fora (em outro quarto).
Íris estremecem.
Íris estremecem.
Uma onda de volúpia melancólica e o esôfago sente.
[pän... ♪]
Aspir... [îîîîîîîsss]
Expir... [fsssssîîîî]
Som desfila, segue e definha num mi agoniante, retumbante entre as quatro paredes...
[nån... nän... nån... nän... nån... nän... ♫]
[nån... nän... nån... nän... nån... nän... ♫]
Lábio encerrado entre os dentes, escarlate e salgado.
Sustenidos rés respondem aos mis tentando gritar à Für Elise (tão pobre)...
[tän, nan, dan, dån... ♪]
[tän, nan, dan, dån... ♪]
Um apelo de si, resquício de dor por ela...
Agora o quarto eram sons, ondas, cadência, ritmo.
Mão esquerda aracnídea.
Movimentos alongados e precisos, encanto.
Mão direita ferina.
Movimentos rápidos e impulsivos, expulsando.
"Fraude...", vinha e retumbava em toda sua existência.
Mais sol, mais dó... Mais acordes em lá menor.
Mão esquerda aracnídea.
Movimentos alongados e precisos, encanto.
Mão direita ferina.
Movimentos rápidos e impulsivos, expulsando.
"Fraude...", vinha e retumbava em toda sua existência.
Mais sol, mais dó... Mais acordes em lá menor.
Dentes trincados, olhos no enquadro da janela.
Uma iluminação destoante invade o recinto, pupila recolhe feliz, rosto e suor.
Quantas horas? Já nem sabe mais.
[nån... nän... nån... nän... nån... nän... ♫]
[nån... nän... nån... nän... nån... nän... ♫]
Mais uma vez... E os dedos sagram clamando por Elise, nada pobre.
Não se ouve o som, mas a luz tímida e fugaz revela o belo tom de vermelho escorrendo do instrumento e tocando os insensíveis.
Sem dó, sem sol. Sal, talvez.
"Fraude." Como? Canção é coração e não só partitura!
Vislumbrava outro enquadro. Um piano de calda
"Fraude." Como? Canção é coração e não só partitura!
Vislumbrava outro enquadro. Um piano de calda
[nån, nän, nån... ♪]
e Elise, provavelmente gritava.
Pela segunda janela, o pianista, invadia mais um espaço seu, com a clave de sol - que ele jamais soube o que era - orquestrando-a.
As teclas tocadas, com certeza desconexas
Pela segunda janela, o pianista, invadia mais um espaço seu, com a clave de sol - que ele jamais soube o que era - orquestrando-a.
As teclas tocadas, com certeza desconexas
[nån, nän, nån... ♫]
pelo convite do senhor clássico ao improvável assento.
"Fraude!" Aquele ritmo... Cadenciado, frequente. Ah, Elise!
[*Tiempf*]
"Fraude!" Aquele ritmo... Cadenciado, frequente. Ah, Elise!
[*Tiempf*]
Seu rosto é chicoteado.
Uma corda o acerta, o aço corta timidamente sua face.
O som cessa.
Fita mais uma vez a foto do casamento lançada ao chão...
Fita mais uma vez a foto do casamento lançada ao chão...
A música cantada, sem técnica; apenas coração.
No apartamento em frente um murmúrio, talvez gemido...
A luz artificial invade o quarto inundando-o.
A luz artificial invade o quarto inundando-o.
Violão no colo, garrafa de vinho em solo.
Calibre 38 ao alcance da mão.
O semblante decidido...
Fraude?
Für Elise.
Fraude?
Für Elise.
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