Sem Resposta
Oi. Tudo bem? Acho que sim, né? [microriso embaraçado] Acho que você vai ficar na dúvida do que isso significa, mas espero que no final de tudo entenda.
Vou morrer.
É... Eu sei que todos nós vamos morrer um dia. “É a única certeza da vida”, você disse. [microriso debochado] Mas, é aquilo que nós conversamos e você sabe que estou bem e aceito bem tudo isso. Acho... O que mais choca as pessoas é que eu nunca me importei. Meu corpo entrega minha idade, mas ninguém sabe, além de você lógico, que tenho mais de 200 anos. [ar de riso] É, até natural depois de tanto tempo convivendo, entender que é mais forte do que eu. Quando sabemos que vamos morrer, o choque na hora faz com que queiramos fazer tudo de uma única vez. Mas depois passa... E aí a gente vira normal outra vez.
Não tenha medo de falar o nome nunca mais. Tudo bem? Já te disse que não devemos acreditar que um nome mude completamente a nossa capacidade de viver feliz – ou é felizes? [...] nunca sei –. Geralmente damos a nossa vida por um nome qualquer, um nome de pessoa geralmente, e gritamos aos quatro ventos que não conseguimos mais viver sem. Eu acho isso tão perigoso já que viemos pra ter [...] – ou termos – uma vida tão curta. [tosse seca]
Desculpa! Por falar nisso... Não fica como eu, tá? Não dê tanta importância às coisas que as pessoas não entendem sobre você. Porque a gente vai ficar tentando e tentando mudar a cabeça deles, mas... Você sabe, as pessoas não querem ser dissuadidas. Elas querem ter razão. Aquele nosso diálogo sobre o bom dia, né? As pessoas não querem saber se você está bem. Bem que você disse: perceber isso, nos muda, mas não muda os outros. Não parte de fora, parte de dentro – e espero que antes que partam. [riso interrompido – engasgo]
E nesse eixo eu me ponho. Quantas vezes eu acreditei que já era uma pessoa morta? Quantas vezes conformada com a minha sina, não fiz contato visual e olhei de lado? E desliguei os sentidos para saber sobre o destino de Eurídice? E me controlei para não rir das piadas tão gostosinhas de ouvir? [voz embargada] Não queria morrer mais, sabe? Mas eu sei que agora é tarde. No final da vida a gente sempre quer mais vida – para corrigir os erros do não viver, eu acho –. [respira fundo – chiado sufocado]
Mas, eu sei quem é você. Eu te vi na fila do pão naquela terça-feira “às 17:08 da tarde”. [riso solto – tosse rasgada] Ou acha que ouvir você cantarolar o Último Romance passaria despercebido? [fungado aflito] Acho que não viveria diferente se voltasse alguns meses no tempo, mas iria querer estar naquela padaria sempre que pudesse voltar [fala carregada] e se pudesse mudar, a única coisa seria dar o beijo que você merece até hoje... [choro curto – respiração profunda] E que nunca o terá.
Foi fraqueza sim. Eu sei disso. Mas quem disse na vida que precisamos ser fortes é um imbecil, sabe? Ser forte é uma obrigação cruel. Quando não conseguimos [pausa – pega fôlego], o mundo se envergonha de nós. [pausa longa]
Eu daria aquele beijo antes, hoje, agora. Sempre me senti tão mais livre contigo, mas o medo de te fazer sofrer me fez mostrar indiferença. Que estupidez a minha. Piegas... Beijei babacas que não mereciam meu perfume no ar e... [voz sonolenta] Eu sei, não há mais o que fazer. É crueldade depois de tudo, mas eu não cons e g u i r i a... [silêncio]
Para a morte mão muda saber quando vamos morrer. Não tente fazer nada... Não t e n t e... [inspira profundamente]
Aceito morrer, só não aceito ir embora sem dizer o qua n t o e u t e a m...
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[recebida às 22:31]
[lida às 22:32]
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[enviada às 22:36]
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[digitando...]
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[enviada às 22:38]
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[digitando...]
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