O Realismo Fantástico
- (Aviso: Violência, Referência Sexual, Horror)
- [P.S: Impróprio para pessoas que tenham mente fértil feat. nojo]
- {P.P.S: É sério. Depois diz que não foi avisado(a)}
O Julgo
Uma noite fria de setembro,
aquela. Robert Stoneshoulders caminhava calmamente pelas calçadas da sombria
Newlake´s Valley. O vento constante e uivante acompanhado por uma névoa célere
e rastejante tornavam o clima mais sinistro do que já poderia ser. As ruas
pavimentadas transpiravam um ar misterioso e macabro... Cada prédio ou
construção, à noite, transformava-se – juntamente com a projeção de suas
sombras - em monstros de diversos aspectos em seu silêncio doentio e ao mesmo
tempo avassalador. Ao entrar em contato com o duro piso da calçada e por vezes
do asfalto meio-molhado, os sapatos sócio-espotivo pretos de Robert faziam
ecoar e retumbar por todo um quarteirão o som de sua passagem.
Com sua beca “paletó e gravata” desarrumada e seus cabelos assanhados, o Dr.
Stoneshoulders (que mesmo não possuindo doutorado, nem sendo médico ostentava tal título) trazia em seu bafo alcoólico – e num perfume barato que se
mesclava ao seu Jandoire – a prova de que estivera numa festa ou
confraternização pessoal. O cheiro de sexo exalava de seu corpo.
Ele, apenas, abriu um sorriso
majestoso – que era uma de suas qualidades cativantes e manipuladoras – ao
lembrar de como sua noite havia sido ímpar. Não se importava em ter ludibriado
e manipulado o vice-presidente da AFIYHE (All Fantasies In Your Hands
Entertainments), muito menos de ter causado seu suicídio quando conseguiu a
vice-presidência por meio da lascívia da esposa dele – a presidente da empresa –, ou ainda de ter batido com o Corvette amarelo e preto de 180.000 U$ há
apenas alguns minutos e de ter sido o único sobrevivente de tal acontecimento
por só ele estar utilizando a segurança disponível (não era culpa dele se a
filha do governador estava debruçada sobre seu colo desconcentrando-o e que seu
sócio estava no banco de trás adormecido e também sem cinto).
Ele não estaria perdido enquanto
andasse pela estrada principal que sempre seguia quando ia e voltava do
trabalho.
Estacou. Olhou o seu relógio de pulso Hype Desire que marcava 00:12
am, meteu a mão direita no bolso e apanhou o GPS que acompanhava o relógio...
Estava a 6 milhas de casa e demoraria um tempo incrível e cansativo até seu
destino. Riu-se quando ao continuar sua vasculha descobriu que o celular estava
fora de área (mesmo sendo impossível um Magman 3441N, via satélite ficar fora
de área!!!). Já havia andado várias quadras e nenhum sinal de telefone público
funcionando. No entanto, nada temia enquanto tivesse sua Beretta 200ST
carregada à suas costas.
Parou mais uma vez. No bolso do
paletó, pegou uma carteira de cigarros Gauloises e com ela levou um à sua boca.
Rapidamente trocou de item em seu bolso: carteira de cigarros por isqueiro
Órion (um pequeno orbe com um botão e um furo pequenino) e acendeu o tabaco
enrolado em seus lábios.
Notou que ao seu lado havia um beco tomado pela escuridão.
Deu alguns passos à frente − continuando sua jornada ainda observando o lugar (uma sensação esparzia de lá e era de uma natureza mais sórdida que a indiferença e ceticismo de Robert) - quando esbarrou em algo.
Deu alguns passos à frente − continuando sua jornada ainda observando o lugar (uma sensação esparzia de lá e era de uma natureza mais sórdida que a indiferença e ceticismo de Robert) - quando esbarrou em algo.
Antes de olhar sua primeira
reação foi jogar o braço direito para trás à procura da arma, fazendo – com o
movimento – o paletó aberto esvoaçar. Mas o quando procurou a origem do choque...
O que ele viu quase o fez perder os sentidos: tinha a sua altura, quatro
membros, um tronco e uma cabeça.
Mas no lugar de pele havia uma massa de carne,
sangue, músculos, pústulas e órgãos que se retorciam e regurgitavam um líquido
grosso e alaranjado em todas as direções, levantou o que deveria ser seu braço
direito e algo que se assemelhava uma mão viscosa e cheia de muco estendeu-se
em sua direção, ao mesmo tempo em que buracos que de tão forçados eram rasgados
onde deveria existir uma boca soltava grunhidos gorgolejantes, aquosos e
pavorosos.
Movimentava-se em sua direção vagarosamente enquanto nacos de carne
viva desgarravam-se do seu corpo e um Robert apavorado recuava vasculhando os
recônditos de sua mente à procura de algum conhecimento que o explicasse o que
significava aquilo.
Na fração de segundos em que ele constatou que aquela coisa
era “Um-Algo-Desconhecido-E-Por-Isso-Deveria-Ser-Destruído” começou a atirar.
Sua bela Beretta prateada a cada segundo cuspia de 3 projéteis em partes
diferentes da coisa maldita que se aproximava.
A cada segundo 15 U$ eram
fincados no corpo da criatura monstruosa. Entretanto, para o desespero
do homem de negócios bem sucedido de Ohio, o monstro não tombara, prosseguia
enquanto ele próprio ficava semiparalisado pelo medo.
Não. Não podia ficar parado. O
que quer que fosse aquilo era indestrutível e o faria mal, com certeza!
Tinha que fugir. E olhou em
volta... E vomitou.
Os prédios, o chão, os postes... Tudo tinha a aparência e a
textura animalesca, fétida e purulenta do monstro que o oprimia. Cabeças sem
pele surgiam da pasta borbulhante de carne e músculos que era agora o universo
que o rodeava. Várias criaturas que pareciam paródias de pessoas familiares
eram cuspidas do que deveria ser o solo, mas agora era um rio grosso de restos
humanos. Elas expeliam como se fosse excremento órgãos genitais de todas as
partes possíveis em jorros de vômito e sangue.
Era uma loucura nauseabunda. Ele
via dólares aqui e ali e achava estar vivendo uma alucinação. A essa altura já
estava caído no que deveria ser o chão... E o primeiro monstro de carne que
vira anteriormente agora estava montado sobre seu corpo, rasgando seu caríssimo
Di Giorgio, arrancado a superficialidade que o cobria... Réplicas funestas de
genitais – tanto masculinos quanto femininos – apareciam e desapareciam, brotando
dos filamentos musculares da criatura em profusa viscosidade, fazendo-o
engulhar e ter espasmos convulsivos...
Inúmeras vezes fora estuprado e
corrompido... Não sabia mais quem era ou o que era, mas algo naquilo tudo,
naquela orgia demoníaca o fazia lembrar-se dos seus pecados e ao invés de desespero,
medo ou remorso ele sentia uma ira insana... E quanto maior a sua ira, maior
eram as perversidades que o acometiam.
Já há algum tempo havia perdido a
vergonha de urinar e defecar em si próprio.
Há muito que seu suor misturava-se às fezes, urina e aos líquidos pegajosos que brotavam das coisas que
pareciam feridas vivas! Ele não era mais ele.
Não era mais nada. Não era, só
sentia. Física e mentalmente... E no fundo sabia que ele era culpado de tudo.
Antes de aquilo acontecer ele até
acreditava no diabo e em Deus – mas não dava muita atenção para os dois. Agora
não sabia mais... Na verdade bem o sabia. Clamou por Ele várias vezes, mas Ele... Não respondeu.
– Ruzziel, não achas que
exageras? – uma voz firme e imparcial se fazia ouvir.
– Não. Esta é a minha lei. Esta é
minha punição. – Ruzziel falava num tom suave e aliviante.
Ambos, Guardião e Arcanjo, examinavam o sofrimento do Mr. Robert Stoneshoulders.
– Sugeres que tal alma mereça essa agonia? – Tornou a primeira voz.
– O caminho dele não seria o
inferno. – era Ruzziel
– Seria o purgatório. Eu sei. Lá
seria um ótimo lugar para arrepender-se, não achas?
– Ofaramir, Arcanjo da piedade,
sei que também defendes a inflexibilidade. – O Guardião mais uma vez.
– Sim – Ofaramir concordava.
– O Todo Poderoso me deu o aval.
Este homem a quem eu protegi por todos esses 25.654 dias é um tocado pelo
inferno. Se ele for ao Purgatório terá talentos e lábia o suficiente para
convencer qualquer executor... Em menos de meia eternidade ele estaria onde não
deveria estar: ao lado do Altíssimo. – Argumentava Ruzziel com não mais que uma
sugestão de ira na face.
– Entendo. Ele tem o que nós não
temos e é um dos tantos que o usa de forma indigna, não? – era Ofaramir.
– O Nosso Grandioso Pai Celestial
não os pune por que os ama com sua Infinita Bondade – o anjo fez uma pausa e
depois de um suspiro aborrecido prosseguiu –, mas eu não os amo. Não mais. A
Justiça d´Ele chegará no dia do Juízo Final. Faço a minha agora; enquanto ele
permitir.
– Mas seu primeiro ato de
justiça... É logo com quem dedicastes a maior parte de seus ímpetos para
defender! Não tens receio do Julgo d´O Santíssimo vir para ti? Não tens medo de
cair? – exclamou questionador, o Arcanjo.
– Não. Não temo qualquer Julgo.
Estou corrigindo um erro, Ofaramir. Errar é humano... – e enquanto uma lágrima
escorria pela face do anjo Ruzziel ele seguiu dizendo – Não sou humano.
Olhavam por entre Os Remorsos
Pecaminosos de Robert Stoneshoulders enquanto este sucumbia.
#PHPoemaday
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